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Creio que Fernão Paz Charmin desapareceu deste nosso mundo com a secreta certeza de ter entendido os mistérios da vida. Com efeito, a sugestão que ele nos deixou (a ampulheta que tem dois espaços e nunca esvazia totalmente porque um substitui sempre o outro) faz-me pensar que o homem ao morrer regressa então à sua memória de antes de nascer e que ali encontrará definitivamente a sua imagem verdadeira e intemporal, ele é, meu filho, a imagem infernal da sua própria memória cósmica e que sonhou um dia no intervalo que existe entre os intervalos finais do acta irreversível do amor.
O sangue e a pedra. O tempo e a palavra. A ambiguidade e a loucura. O labirinto do corpo e o gesto que fica suspenso no olhar da serpente. O espaço e a morte. A catalepsia da interpretação. Sinais. Apenas sinais de que o homem foi criado por ninguém. O homem. Filho de Ninguém.
Jánika por Vitório Káli (página 120)
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