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Cada noite que passa os meus sonhos têm cada vez mais comentários do realizador.

Estou a sonhar e quando “percebo” que aquilo é um pouco/muito incoerente lá me ouço a dizer “isto vai dar problemas”. 

Exemplos: hoje sonhei que uma tribo de homens que vive em comunhão com a natureza estava  admirar um veado. A louvar a sua existência. A lamentar que o tinham de matar para sobrevivem. Prepararam o arco, as flechas. Tudo foi interrompido com o barulho ensurdecedor de carros a voar pela estrada, com o seus ocupantes a descarregam cartuchos completos no veado que fugiu com o barulho, mas que não conseguiu escapar às rajadas das metralhadoras. Caiu morto. “Isto vai ser um problema”, senti-me comentar e… acordei.

Na cena seguinte o veado vai a assar, mas no último momento é substituído na grelha por um bebé. A carne começa a tostar. A cara a ficar retorcida num esgar. “Isto é doentio”, comento e… acordo.

E a noite foi passando-se desta forma.

o passado é um país estrangeiro de ali smith

Era uma vez um homem que, certa noite, durante um jantar social, entre o prato principal e o doce, subiu as escadas e fechou-se num dos quartos da casa. À medida que as horas se transformam em dias, e os dias, em meses, as consequências deste estranho ato repercutem-se para o exterior, afectando os donos da casa, os outros convidados, a vizinhança e todo o país.

Quetzal Editores

Lamentavelmente não me deu pica. Deve ser aquela altura do mês em que se complica qualquer leitura. Coloquei o livro de lado e iniciei novos voos, noutras páginas.

4 3 2 1 de paul auster

Entre muitas outras leituras fui lendo calmamente esta obra.

Antes de mais, 4 3 2 1, é um livro pesadão de 872 páginas, mas que se lê bem; muito bem até.
Archie Ferguson, a personagem principal, tem a sua vida desdobrada em quatro caminhos. São, assim, apresentadas quatro vidas de Archie, temperadas com sexo, solidão, amor(es), tristeza, alegria, que divergem umas das outras devido a pequenos acontecimentos e escolhas. Mas logo se percebe que as pequenas escolhas se transformam em grandes mudanças.

Para ajudar na distinção da vida dos quatro Archie os capítulos são numerados da seguinte forma:
Archie I
1.1, 2.1, 3.1, 4.1, 5.1, 6.1, 7.1 – Fica-se a saber que Archie morre num incêndio em Rochester enquanto dormia.
Achie II
1.2, 2.2 – Archie morre com o impacto de um ramo na sua cabeça.
Archie III
1.3, 2.3, 3.3, 4.3, 5.3, 6.3 – Archie morre atropelado em Londres.
Archie IV
1.4, 2.4, 3.4, 4.4, 5.4, 6.4, 7.4 – e aqui tudo fica explicado ou talvez não…

Assim 4 3 2 1 é, naturalmente, a contagem decrescente para a morte de Archibald Isaac Ferguson (Archie Ferguson).
E descobre-se que o livro tem vários livros dentro de si. Não é apenas quatro em um, mas acima de tudo um em quatro.

É uma obra de grande fôlego. Narra, não apenas as vidas dos Archie, mas consegue envolver-se perfeitamente nas convulsões sociais dos EUA: a contracultura, o movimento dos direitos civis, o Black Power, a guerra do Vietname,  e os movimentos pró e contra, a importância do SDS, a ocupação da Universidade Columbia, em Nova York por estudantes,  a revolta em Newark, Nova Jersey, o assassinato de Martin Luther King e a onda de violência que se seguiu.

4 3 2 1 fala de filmes e de livros com uma paixão desmedida, ah! e também de música. Uma maravilha.

É um livro que merece ser lido com calma.

erro de sistema – 0004

o erro de sistema não permite saídas à noite.

reais

Os meus sonhos têm sido tão vívidos que não me deixam mergulhar nas profundezas do sono. Estranho!

sombria

Era uma casa tão sombria, mas tão, tão sombria que quando os raios do sol a decidiam acariciar já era noite.

cheio de tosse

Ele caminhava com uma caixa cheia de tosse que abria aqui e ali. Ele poderia ser muitas coisas, mas não era uma pessoa egoísta. No final do dia, ele olhava para a caixa vazia com orgulho e adormecia sempre feliz, embalado pela tosse que na rua era cantada em harmonia.

erro de sistema

Pequenos textos sobre “erro de sistema”.


erro de sistema!

o erro de sistema à distância de um click!


upDATE_17.09.2016
o erro de sistema nunca está de férias!


upDATE_18.09.2016
o erro de sistema trabalha 365 dias e descansa no 366, ou talvez não!


upDATE_19.09.2016
erro de sistema ao minuto.

o erro de sistema vai arrebentar pelas costuras.

‘Há muitas maneiras de me dizerem as coisas e como as coisas são transmitidas e como eu venho a saber, depois na realidade, repare: estava um caos, estava coisa, há quanto tempo foi? e não fizeram nada, então não estava assim tão mau, isso então não explodiu, nem foi pelo ar agora eu também digo assim, é necessário pedir as peças?’
Talvez sim… devido ao erro de sistema.


upDATE_20.09.2016
e não é que todos vamos ouvir… Carmina Burana!
à espera que o erro de sistema entre em licença sabática.

o erro de sistema não é humilde.
o erro de sistema extermina todos os processos cognitivos.
o erro de sistema é “Temor e Tremor”.


upDATE_21.09.2016
‘mas quem deu ordem para isso?”
‘um erro de sistema impede acesso à resposta.’
/>a recuperar de um erro grave…
/>a realizar uma manutenção cerebral… sem sucesso
/>a identificar o ficheiro danificado… sucesso
/>a identificar o ficheiro executor… sucesso
/>a reinstalar o cérebro em modo de segurança…
/>
/>erro de sistema


upDATE_22.09.2016
o erro de sistema não previne estrias corporais, estruturais e outras que tais.

o erro de sistema não é marca branca.

se o erro de sistema imprimir só a preto em folha branca é racismo.
se o erro de sistema imprimir só a preto em folha preta é redundância.

o erro de sistema é um lobo solitário, excepto quando imprime páginas em branco.


upDATE_23.09.2016
o erro de sistema não permite saídas à noite.

a lista Y deslocou-se para a pasta X porque pensou que o erro de sistema não estava operacional; ilusão! o erro de sistema estava em hibernação e logo exibiu uma mensagem: ‘deslocação sem permissão!’


upDATE_26.09.2016
o erro de sistema gosta de ti.


upDATE_27.09.2016
o erro de sistema não te vira as costas.

o erro do sistema não conhece a palavra “bug”.


upDATE_28.09.2016
o erro de sistema não processa caracóis.

o erro de sistema não precisa da ajuda do justiceiro, nem dos sete magníficos; ele é lei, juiz e carrasco.

out at night in the day

A minha mãe nunca me deixou sair para a rua à noite, assim eu saía à noite de dia.
É por isso que eu não entendo certas coisas:
# como pode alguém transformar um suicídio em ameaça?
# como pode a polícia me proibir de ir para casa de carro, mas deixar-me passar a pé?

que qualidade se pode exigir à batata?

É mais que sabido que a ingestão não moderada de álcool acarreta graves consequências, nomeadamente ao nível da performance sexual. Não existe margem para dúvida que o consumo de álcool diminui a coordenação motora, afectando as aptidões perceptivas e cognitivas, e, pois claro, a capacidade de pressão.

São cada vez mais os casos, vulgarmente baptizados, por “falha em acertar no buraco”, tecnicamente designados como o síndroma da perseguida: o pénis persegue a entrada da vulva, tal mosca a bater ad eternum num vidro, mas nunca acerta e fica de fora bambaleando-se até perder potência e a jovem a paciência.

Aqui o vosso BigPole tem a felicidade de se movimentar pelos meandros da sexualidade nocturna e diurna sem problemas. Reconheço que sou um bom cliente das profissionais da mais antiga profissão do mundo, só me falta ter um cartão de fidelidade para acumular pontos, e igualmente um bom conselheiro. Foi, portanto, na sequência de uma conversa pós-sexo, que, a como que presidente da Organização de Regulação Geral da Actividade Sexual Mesmo Óptima (O.R.G.A.S.M.O.), me confidenciou o facto de que o “oh… oh… sim… mais.. uh… vai.. vai.. ahh… ahhhhh… ai… ai… ui… ui… sí cariño… vai… fundo… isso… me gusta… mais! mais! mais! ok!” e todo um possível caleidoscópio de gemidos está com os dias contados. O cliente é cada vez mais bêbedo, porco e sem o mínimo de postura cívica para utilizar os serviços de qualquer rameira que se orgulhe de dizer de peito ao léu sou uma puta; até as profissionais de nível zero, que não obtiveram aprovação em pelo menos três UFCD (Unidades Fomentadoras de Cenas Doidas), e que pululam e copulam à bermas das estradas se queixam que nem de quatro o buraco é aconchegado com elegância – estão cada vez mais insatisfeitas e apenas esperam a altura para dispararem “agora chega! acabou o tempo!”

As profissionais do sexo querem, como nos antigamente, não apenas dar prazer, mas sentirem diversão no trabalho que têm entre mãos, seios, coxas, enfim, não preciso de fazer um desenho – é o que elas chamam de 2 em 1. Se recebem uma compensação monetária para darem gozo, qual o motivo para não obterem igualmente um saudável e respeitável orgasmo? É pedir muito a um cliente? Não pode ser o cliente um bom amante?

Aconselhei, como quem não quer a coisa, apesar de já estar com os dedos enfiados nela, que “vocês deviam estipular um mínimo de condições de acesso aos vossos serviços.”

Soube, mais tarde, numa outra discussão com a púbis morena da minha presidente, que foram definidas algumas orientações para os clientes, a saber:

  • O cliente não pode estar com uma taxa de álcool acima de 0,65 gramas por litro de sangue. Deixam de existir falsas partidas.
  • O lema “cada um é cada um” só é aceitável a partir do tamanho médio de 12cm a 17cm de pénis erecto como foi definido pelo The Kinsey Institute for Research in Sex, Gender, and Reproduction. Nada de brinquedos de 7cm, excepto se vierem acompanhados de um bom vibrador gelatinoso e por um livro de banda desenhada para o cliente se entreter enquanto espera.
  • Acabaram os sabores vintage. O pénis deve ter um mínimo de limpeza. Tal como um vinho não deve saber a podre, o falo não deve revelar que esteve a marinar por uma semana no cu de um porco. Se tal não acontecer a profissional utilizará um toalhete com PH neutro para a limpeza – despesa a acrescer à tarifa base e sem desconto de tempo; pode até, em último recurso, recusar prestar o serviço, mesmo que o cliente lhe ofereça uma caixa de preservativos com sabor a bolo de batata. Como sabem estes preservativos estão in e qualquer amante que se queira vir deve andar com uma embalagem de 6 na carteira.

Foram tomadas mais decisões, mas eu já não estava com atenção nas palavras, mas no corpo de quem as lia. E, pela primeira vez, a presidente pediu-me para colocar um batata – não me apanhou desprevenido. Claro que eu, o vosso estimado BigPole, não se limitou a usar o batata e aproveitou para amaciar a amante com um ondulante poema:
Beijo-te
Ai…sim!
Tremes
Arrepiada
Transpiras
Apaixonada!

Que noite! Saiu-me foi cara.

o vosso legislador BigPole