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duas frustações

mota novinha em cima. uma recta perfeita de 5 quilómetros. ‘vou experimentar agora quanto esta merda atinge‘, pensa. e aí o vemos a speedar totalmente concentrado. vrummmmm. uma velocidade. duas. três e mortal despiste – dupla frustração: morreu e não chegou a ver a velocidade da merda.


a vida não vale a pena ser vivida. não faço nada certo‘, concluiu. e daí que o homem decide em boa hora, boa pelo menos para ele, por fim à sua vida com um tiro na cabeça. a bala entra no lado direito e sai no lado esquerdo do crânio e ele não morre. fica apenas em estado crítico, mas sobrevive – dupla frustração: não morreu e até a realizar uma actividade cujo sucesso só dependia dele, falha.

vazio? eis a questão!

Entrei na Trindade com destino a Vila de Conde. O metro quando chegou à estação da Fonte de Cuco estava completamente cheio; transpirava pessoas por tudo o que era sítio.

Corria tudo bem, estava a curtir uma boa leitura e uma doce música, até entrar um velhote na estação de Esposade que petrificou o olhos em cima de mim; o olhar suplicava o meu lugar. Que cena! Dirigi a vista para os lados e não pude deixar de constatar que estavam no compartimento pessoas mais novas do que eu. Que fossem elas a ceder o lugar. Hoje em dia há cada marado.

Mais um solavanco e foi com dificuldade que o velhote se aguentou a pé, apesar de estar abraçado a um varão. Vi-lhe gotas de suor a escorrer pela cara; só faltava o sujeito ter agora um ataque de coração. A agravar o clima os olhos do homem continuavam acampados em mim. Haja paciência! O tipo não vê que a carruagem está repleta de adolescentes bexigosos. Porque não os encara ao estilo Bambi?

Fiquei tentado a levantar-me quando percebi que o velhote até podia ser o meu pai. Se, assim fosse, eu gostaria que alguém lhe tivesse cedido o lugar. Cruzei e descruzei as pernas com a ideia de que, possivelmente, mesmo que remotamente, poderia estar a ser um sacana – ele podia ser o meu pai!

Ele podia ser o meu…, no segundo momento em que este pensamento me ocorreu tive a epifania que resolveu os problemas morais que estava a sentir; a constatação de que em situação semelhante, o mais certo, era o meu pai não ter alguém a ceder-lhe o lugar porque existirá sempre um filho-da-puta como eu. Fiquei com o espírito sossegado, encerrei as pálpebras para apreciar devidamente a Icarus Dream Suite Op. 4 de Yngwie Malmsteen que começou a invadir-me os ouvidos.

lapdance 1.01

Num abrir e fechar de olhos LapDance chegou ao destino. Claro que para quem tem dois dedos de testa, enfim, para qualquer entendedor mediamente inteligente LapDance nunca fechou os olhos; isso seria o convite ao suicídio. É um sujeito doido, até desleixado, mas não kamikaze. O que interessa para a nossa história é o facto de que viajou mais rápido do que uma lesma vítima inocente da toma de viagra.

Desligou a mota no parque reservado aos VIP. Levantou a viseira do capacete, adorava especialmente este momento mágico; enquanto posicionava o descanso admirou-se com os pneus esfarelados, sintoma de boas curvas e ardente velocidade; o crepitar do escape abriu-lhe o apetite para umas castanhas assadas na brasa. Ali de preto iluminado apenas pela luz do candeeiro público auto alimentado sentiu-se um homem capaz de enfrentar sem dificuldade qualquer problema que Nectarina tivesse ou viesse a ter.

Só depois deste inócuo narcisismo é que tirou o capacete, deixando-o a repousar no depósito de gasolina, e observou pasmado e com uma total incompreensão a Bolo-Rei. Olhava como uma vaca para o vazio deixado por um TGV que ora estava ali, ora já não. Os seus olhos presenciavam a ausência de luz onde esta deveria existir. Se estivesse com o capacete alojado na cabeça poderia usar como desculpa a massa anónima de insectos colados à viseira. A verdade é que os enormes tubos de néon que compunham em voltas e reviravoltas as letras da palavra Bolo-Rei estavam completamente às escuras – seria agradável um suave piscar, até uma faísca. O facto da Bolo-Rei ter a forma de um rectângulo de ouro não sossegava LapDance; e a agravar o quadro nem a luz piloto, amarela, que assinalava a campainha das traseiras emitia qualquer luminosidade. Estranho, muito estranho, pensou. Estaria a sonhar? Um calafrio seria algo que não desgostaria LapDance; sempre era a prova de que estava bem acordado, mas o seu fato Alpinestars entre outras funcionalidades mantinha-o a uma temperatura corporal constante.

Cautelosamente aproximou-se da porta. As botas faziam estalar a gravilha; o tubo de escape copiava o som. Sentiu que estaria melhor no sofá a curtir um filme e a comer pipocas. A sua tara por comida era lendária, e qualquer motivo servia de pretexto para provocar todas as suas papilas gustativas.

Empurrou a porta que estava ligeiramente entreaberta. Entrou, e o que sentiu de imediato foi um cheiro que lhe trouxe agradáveis recordações de orgias, o cheiro adocicado de vómito; mas por mais preparado que pudesse estar não estava para aquele cenário.

[em continuação…]

as atribulações de um português no porto

E antes que digam que existe um livro com um nome semelhante ao título desta entrada, eu coloco-o aqui: “Les Tribulations d’un Chinois en Chine” de Jules Verne. Pronto!

Ontem o dia correu muito bem. O almoço do Leituras de BD estava devidamente condimentado; espectacular companhia.

Quanto ao MAB – Festival Internacional de Multimédia, artes e BD, como ia com o pessimismo instalado, até gostei. Teria alguns aspectos negativos a apontar, mas o facto de ter efectuado umas boas compras, conhecido pessoal fantástico, e ter trazido uns valentes rabiscos, evita frases mais tristes. Além do mais tive o prazer de ver em primeira mão a exposição de Zakarella.

Contudo este post não servirá para falar do MAB – Festival Internacional de Multimédia, isso ficará para outro, mas das minhas aventuras malucas, que comprovam muita coisa ou nada.

Os apontamentos:

    1. Fui de comboio
    2. Como tipo precavido que sou, depois de ver o horário do comboio de regresso, marquei como alarme a hora de partida no meu Nokia x6 para não o perder.
    3. Às 17h45m o alarme disparou. No visor indicava 18h00. Com apenas 15m para chegar ao destino e como não sabia a forma mais rápida de chegar à estação de São Bento pedi indicações à diabólica Virgulina Labareda.
    4. Recordei-me que tinha deixado na mão do João Mascarenhas o Punk Redux, o novo álbum do Menino Triste. Fiquei mais que doido.
    5. Pesquei o marcador de livros da Dr. Kartoon, telefonei para a loja de Coimbra, pedi o número de telemóvel do João Miguel Lameiras e pedi-lhe para deixar o álbum com Nuno Amado – agora vou ter mesmo de pagar os portes!
    6. Perdi-me, temporariamente. Sabia que a rua de referência tinha uma data, mas só me lembrava do 25 de Abril. Como fui capaz de me esquecer de um livro!
    7. Quando me lembrei do 31 de Janeiro foi sempre abrir – claro que a descer ajuda.
    8. Chegado à estação de São Bento, pisco os olhos para o relógio de pulso que me indica 18h30m – merda, perdi o comboio.
    9. Ataco a tabela de horários Porto-Vigo para ver a alternativa e reparo que não existe qualquer comboio às 18h00, mas sim às 18h45m
    10. Amaldiçoo o Nokia x6 e especialmente o sujeito que gravou o alarme. Depois desta confusão ainda tenho 15m – nada mal!
    11. Na bilheteira: “Um bilhete para Barcelos”.
    12. “Não há hoje mais comboios para Barcelos devido à greve”.
    13. “Greve! Mas está no placard o comboio das 18h45m para Braga”.
    14. “Não tem ligações para os regionais.  A greve é dos regionais a partir das 16h00. Só tem comboio até Nine.”
    15. Ainda na bilheteira: “A sério?!! Que seja. Um bilhete para Nine.”
    16. Continuando na bilheteira: “Mas, mas… depois o senhor não tem comboio para Barcelos!”
    17. “Faço o resto do percurso a pé pela linha. O meu Nokia servirá de lanterna.” Fiquei um pouco melhor com a expressão do homem, apesar de ele ter a obrigação de não revelar qualquer surpresa perante um simples sujeito de chapéu aparentemente amalucado.

Ainda tive tempo de beber um capuccino extraído daquelas máquinas automáticas e comprar uma garrafa de 1,5l antes de entrar para o Comboio. Ufa!!!