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prioridades

Ando realmente e totalmente alheio. Imerso na minha escrita, leituras, pesquisas, trabalho só hoje soube da morte de Mr. Nimoy. A verdade é que mesmo que soubesse não parava mais de dez segundos a pensar no assunto. Vivo com a dolorosa falta de quem realmente me faz falta e a amar perdidamente quem vive e me faz falta. São prioridades.

freud is fantastic

Today I dreamed that four of my aquarium fish had died. I picked up the Freud’s book “The Interpretation of Dreams” and I easily came to the conclusion that fishes also die. Freud is fantastic.

a porta dos infernos

A Porta dos Infernos por Laurent Gaudé (edição pela Porto Editora) foi lido no decorrer do dia de ontem. É um daqueles livros que tinha para ler e que era preterido em relação a outros.

Já sabia antes de o começar a ler que ia gostar dele, não sabia que seria uma leitura vertiginosa. A Porta dos Infernos é um livro sobre a morte, o desespero, o esquecimento, a fragilidade dos sentimentos, mas acima de tudo sobre a importância da vida. Não me deixou indiferente; é um livro muito bem escrito e profundamente perturbador.

O Pintor de Batalhas por Arturo Pérez-Reverte foi outros dos livros que me conseguiu abalar – no bom sentido. Contudo A Porta dos Infernos é uma leitura mais sufocante.

E estas palavras ditas por Schmidt no filme “About Schmidt” podem quase explicar um pouco do que foi lido.

Relatively soon, I will die. Maybe in 20 years, maybe tomorrow, it doesn’t matter. Once I am dead and everyone who knew me dies too, it will be as though I never existed. What difference has my life made to anyone. None that I can think of. None at all.

About Schmidt

o pequeno deus cego

Já li muitas críticas sobre a obra “O Pequeno Deus Cego”, história de David Soares, desenhos de Pedro Serpa, umas más, outras menos más, outras sem sentido, umas boas, outras muito boas, mas grande parte das críticas negativas têm uma coisa em comum: o leitor sentiu-se chocado. Fico feliz por isso.

Se o livro que lemos não nos acorda com um murro no crânio, para quê lê-lo? Para que nos faça felizes, como escreves? Por Deus. Sê-lo-íamos da mesma maneira se não tivéssemos livro nenhum, e, se fosse necessário, poderíamos escrever os livros de que precisamos para sermos felizes. Muito pelo contrário, necessitamos de livros que sobre nós exerçam uma acção idêntica à de uma desgraça que muito nos tenha afligido, tal como a morte de alguém que amássemos mais do que nós mesmos, como se fôssemos proscritos, condenados a viver nas florestas, afastados de todos os nossos semelhantes, como num suicídio – um livro deve ser o machado que quebre o mar congelado em nós. É assim que eu penso.

Frank Kafka, Carta a Pollak, 27 de Janeiro de 1904

 

Gosto de ler livros que me fazem passear na praia, sentir a areia a fugir por entre os dedos, mas adoro acima de tudo livros que me fazem reflectir, pensar, questionar.

David Soares consegue em cada história esse objectivo e neste “O Pequeno Deus Cego” ainda tenho os excelentes desenhos de Pedro Serpa. “O Pequeno Deus Cego” é um refrescante dry martini, temperado aqui e ali com uma azeitona verde, com a descoberta de novos sabores a cada sorvedela – fantástico.

“O Pequeno Deus Cego” pode ser lido sentado, deitado, de bruços; não obstante, qualquer que seja a posição, permite várias leituras e revela que David Soares explora a natureza humana com uma mestria acutilante. Ninguém fica indiferente a “O Pequeno Deus Cego” pelo argumento e pelo trabalho visual de Pedro Serpa (desenhador a seguir com muita atenção).

a forca por joe abercrombie

Como defenderá alguém uma cidade rodeada por inimigos e infestada de traidores, quando os seus aliados não merecem confiança e o seu antecessor desapareceu sem deixar rasto? Bastará para fazer um torturador sentir vontade de fugir (mesmo que conseguisse caminhar sem bengala) e o inquisidor Glokta precisará de encontrar as respostas antes que o exército gurkês lhe bata aos portões. Os nortenhos passaram a fronteira de Angland e espalham fogo e morte pelo território gelado. O príncipe Ladisla pretende rechaçá-los e cobrir-se de glória eterna. Há apenas um problema: ele comanda o exército com o pior armamento, a pior preparação e a pior liderança em todo o mundo. E Bayaz, Primeiro dos Magos, lidera um grupo de aventureiros arrojados numa missão pelas ruínas do passado. A mulher mais odiada do Sul, o homem mais temido do Norte e o rapaz mais egoísta da União poderão ser estranhos companheiros de viagem, mas, se conseguissem deixar de se odiar, seriam também companheiros potencialmente letais. Segredos ancestrais serão expostos. Batalhas sangrentas serão ganhas e perdidas. Inimigos declarados serão perdoados… mas não antes da forca.

Edições Asa

A Forca, segundo volume da trilogia “A Primeira Lei”, por Joe Abercrombie é uma leitura sólida. Não há surpresas, e como tal é lida sem sobressaltos. Se o uso de capítulos intercalados, que nos obrigam a perceber as aventuras de várias personagens ao mesmo tempo, para forçar a leitura, é um método poderosamente condicionante, e que na “Lâmina” foi uma mais valia, o ponto alto da narrativa aconteceu, mesmo, quando personagens aparentemente sem nada em comum se encontram, n’A Forca, isto, aborreceu-me um pouco.

Tirando as cenas de cariz sexual, fracas e quanto a mim descontextualizadas, o resto do livro vale por ser mais do mesmo: violência, magia, mais violência, linguagem sem papas-na-língua e violência, e traição.

a descoberta e a morte

  1. a morte: assassinei um copo de espumante seco, que não ficou no frigorífico, com um prato de almôndegas.
  2. a descoberta: até a pessoa mais presunçosa, altiva, abaixa a cabeça quando começa a levar com chuva nas fuças.

em estado terminal

não sei se vou continuar com o blog por isso está em estado terminal:

  • ou morre definitivamente
  • ou sofre um choque eléctrico e renasce

não sei?
apenas sei que estou cansado de mim.

a caminho do desconhecido

Un ami qui meurt, c’est quelque chose de toi qui meurt.

Gustave Flaubert

 

Hoje a negritude passeia comigo de mãos dadas.

Adeus amigo. Ficas-me na memória para todo o sempre.

dead end

No dia 30.abril lá fui ver a peça de teatro “Dead End” sobre um texto da dramaturga Letizia Russo (nascida em Roma em 1980) interpretada por alunos do 12º B.

“Dead End” conta a(s) historia(s) de oito jovens que vivem como uma seita sobre o poder de Sirius, que aos olhos deles é um Deus. Os diálogos abordam não apenas as questões da adolescência, mas da humanidade no seu sentido mais lato. A adoração de Sirius dia após dia, numa colina claustrofóbica, e a viagem de Kris e Ken foram bem conseguidos no apertado espaço do auditório da biblioteca municipal – a escolha do espaço potenciou o ambiente.
O facto de o elenco ser quase exclusivamente composto por mulheres criou uma atmosfera mais onírica aos quadros.

Saliento a confiança em palco, nisso podem me apontar o dedo, mas dah!!, de Sara Brito no papel de Sirius e de Sara Rodrigues como Kent, mas de uma forma global estão todos de parabéns.

Os diálogos são muitas das vezes chocantes, cruéis; uma cena muito ousada foi interpretada. Fico contente, admirado até, por não ter havido censura.

“Dead End” é brutalmente rude (adorável) e seria interessante ver a peça na sua totalidade. Uma experiência a repetir.

update [04.05.2012]
elenco completo
Sirius – Sara Brito
Spyrus – Mariana Vieira
kent – Sara Rodrigues
Kris – João Miranda
Reiko – Cláudia González
Nimar – Alberto Vilas Boas
Laura – Inês Sousa
Audrey – Cátia Fernandes
Doris – Ana Pereira
Kim – Joana Serre
Elf – José Lopes

duas frustações

mota novinha em cima. uma recta perfeita de 5 quilómetros. ‘vou experimentar agora quanto esta merda atinge‘, pensa. e aí o vemos a speedar totalmente concentrado. vrummmmm. uma velocidade. duas. três e mortal despiste – dupla frustração: morreu e não chegou a ver a velocidade da merda.


a vida não vale a pena ser vivida. não faço nada certo‘, concluiu. e daí que o homem decide em boa hora, boa pelo menos para ele, por fim à sua vida com um tiro na cabeça. a bala entra no lado direito e sai no lado esquerdo do crânio e ele não morre. fica apenas em estado crítico, mas sobrevive – dupla frustração: não morreu e até a realizar uma actividade cujo sucesso só dependia dele, falha.