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a especulação imobiliária de italo calvino

Numa pequena cidade da Riviera, que conhece um rápido desenvolvimento económico, começa a falar-se de turismo. Por isso, é inevitável que o mercado imobiliário cresça e o cimento se espalhe de um modo febril e desordenado.
Quinto Anfossi, um intelectual que leva uma vida económica e espiritual muito recolhida, fica fascinado pelo novo espírito que parece ter invadido a Itália, pela energia vital que emana dos construtores e dos homens de negócios, indivíduos que, aos seus olhos representam o homem novo. Esmagado pelos impostos que, pela morte do seu pai, pesam sobre a propriedade da família, transforma-se em empresário imobiliário, seduzido, mais do que pelo dinheiro, por aquilo que interpreta como o novo espírito dos tempos. Para isso associa-se a um certo Pietro Caisotti, um homem rústico e ignorante que conseguiu já fazer uma pequena fortuna.
À medida que o tempo passa, o negócio torna-se mais complicado do que parecia e, depois de muitas vicissitudes legais e burocráticas que levam inclusive à ruptura com o seu irmão, Quinto, cada vez mais preso nas areias movediças da sua relação de negócios com Caisotti, decide chegar a um acordo com o empresário do qual o limitado e vulgar Caisotti sai obviamente vencedor.

Wook

Outro grande conto. Italo Calvino é um mestre – excelente como a corrente do absurdo nos começa a abafar.

Tradução de José Colaço Barreiros

palácio de palagónia

@ wikipédia

The Villa Palagonia is a patrician villa in Bagheria, 15 km from Palermo, in Sicily, southern Italy. The villa itself, built from 1715 by the architect Tommaso Napoli with the help of Agatino Daidone, is one of the earliest examples of Sicilian Baroque. However, its popularity comes mainly from the statues of monsters with human faces that decorate its garden and its wall, and earned it the nickname of “The Villa of Monsters” (Villa dei Mostri).

This series of grotesques, created from 1749 by Francesco Ferdinando II Gravina, Prince of Palagonia, aroused the curiosity of the travellers of the Grand Tour during the 18th and 19th centuries, for instance Henry Swinburne, Patrick Brydone, John Soane, Goethe, the Count de Borde, the artist Jean-Pierre Houël or Alexandre Dumas, prior to fascinate surrealists like André Breton or contemporary authors such as Giovanni Macchia and Dominique Fernandez, or the painter Renato Guttuso.

Sobre a sua visita a este Palácio Goethe no seu “Viagem a Itália” tem umas opiniões interessantes. Transcrevo algumas considerações:

Durante todo o dia de hoje ocupámo-nos dos absurdos do príncipe de Palagónia (…) e seria uma grande honra querer atribuir-lhe uma centelha que seja de imaginação.
(…)
O aspecto repugnante destes abortos produzidos pelos mais ordinários canteiros é ainda potenciado pelo facto de eles serem feitos dos mais soltos tufos de calcário conquífero;
(…)
Mas, para vos transmitir todos os elementos da loucura do principe de Palagónia, fazemos seguir o seu inventário.
(…)
Imaginem-se agora todas estas figuras produzidas em massa, geradas sem sentido nem razão, agrupadas sem objectivos nem critérios, imaginem-se estas peanhas, estes pedestais e estas disformidades numa sequência sem fim, e poderá ter-se uma ideia da sensação desagradável que se apossa de qualquer um que passa pelo flagelo destes desvarios.
(…)
Seria preciso um caderno, só para descrever a capela. É o cúmulo de toda esta loucura (…)

páginas 314/315/316/317/318

tony chu: galo de cabidela #10

O novo arco de história de Tony CHU, a série best-seller do New York Times, aproxima-nos rapidamente do final da série (serão 12 volumes), com a sua combinação improvável (e um pouco parva, seremos os primeiros a admiti-lo) de detectives, bandidos, canibais, clarividentes, cozinheiros e homens biónicos.

G Floy

Outro volume delirante, absurdo, surreal, cómico – poderosamente alucinante.

Com argumento de John Layman e arte de Rob Guillory Tony Chu continua a ser da melhor banda desenhada que ando a ler.

Por PoYo! tenho de fazer render o peixe e ir lendo devagar os últimos dois volumes.

dahhhhhhhhhhhhhhh

A frase “Viver um dia de cada vez” constata o mais que óbvio pois, efectivamente, só podemos viver um dia de cada vez. O contrário seria muito mais do que um paradoxo, seria um absurdo, uma impossibilidade temporal.

contos de s. petersburgo de nikolai gogol

Lido os Contos de S. Petersburgo de Nikolai Gogol, oferecido no Natal pelo meu filho.

Este livro é composto pelos contos:

  • Nevksy Prospekt
  • O Diário de um Louco
  • O Nariz
  • O Coche
  • O retrato
  • O capote

Nos contos são narradas situações tão estranhas, surreais, que não fazem qualquer sentido (o que acho por demais divertido). Cheias de personagens hilariantes que por motivos vários acabam por viver situações absurdas, as histórias fornecem ao mesmo tempo uma leitura divertida e um questionamento sobre a percepção do que é a nossa realidade.

o nariz do herói decide passear e torna-se funcionário público

Todas as histórias estão assentes numa obsessiva – ideal – observação. Com uma lógica própria e com descrições quer cómicas, ou sinistras ou até comoventes temos textos estranhos, bizarros, satíricos – malucos!

Ler Gogol foi puro prazer.


Imagem “The Nose” by Ekaterina Boglovskaya