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em linha directa

Tenho uma colega sentada à minha frente. Linha directa quatro metros. Tapada por um monitor de 19”. Sentada não a vejo (é pequena). Mas ouço-a – irritantemente. O som que emite é um grasnar e um zurrar demoniacamente combinados. Se isso já não pernicioso per si ainda se dedica a trautear as músicas que passam na rádio. Uma vaca a caminho do matadouro consegue ser menos dramática. Hoje, não sei como, está a ser mais colérica. Não sei quanto tempo mais aguento. Atirei-lhe um agrafo que ficou abafado na enorme peruca a que chama cabelo. Arremessei uma régua de dez centímetros que colidiu contra o monitor. Nem se mexeu. Nada de grave. Peguei no meu teclado QWERT e sem qualquer sobressalto enfiei-o à velocidade da escuridão no lado esquerdo da sua cara. Ela começou a sangrar da boca. Gemeu uns gemidos nauseabundos. Pumba e carreguei-lhe novamente com o teclado. Calou-se. E desfalecida encontrou o chão. Do teclado saltou apenas a tecla F1 que ficou languidamente pousada ao lado da sua cara. Sentei-me na cadeira vazia. E de olhos fechados esperei. Sosseguei. Esperei.

sucesso do ovo

Quase sempre a vinheta no interior dos livros da Quetzal Editores têm como ponto de partida algumas palavras da história. A maior parte das vezes não coloco essa referência pois a descubro dias, ou semanas após colocação do post. No presente caso, porque sim, coloco a referência ao ovo da vinheta do livro “Sucesso” de Martin Amis.

(…) Lembro-me de que acabava de despachar a cozinheira com umas palavras duras sobre a consistência do meu ovo quente e, enquanto esperava os 285 segundos necessários à preparação do substituto, recostei-me na cadeira estimulando o paladar com um pedaço de torrada e Gentleman’s Relish.

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os motivos?

Todas as guerras são originadas por diversos motivos: religiosos, étnicos, ideológicos, económicos, territoriais, de vingança ou de posse. Os indícios estão sempre presentes e podem ser evitados, contornados com paciência, bom senso e boa diplomacia. Mas ninguém estava preparado para O motivo que originou uma guerra de proporções bíblicas e que exterminou 90% da população humana em finais de 2019.

Até 2324 os historiadores, os sociólogos, psicólogos, cientistas políticos, arqueólogos não discerniram qualquer razão objectiva ou subjectiva para a carnificina. Sabem apenas que a génese esteve num grito de alerta que arrotou esta frase: “mexeram-me na cadeira!” Depois disto foi o caos. As pessoas enlouqueceram, deliraram, alucinaram (escolham o que quiserem) e nesse delirium tremens o diabo andou solto na terra.

Em Janeiro de 2325 foi descoberto o ground zero da guerra de 2019 e após duas décadas de escavações meticulosas foi encontrado junto aos restos cadavéricos de uma cadeira um parafuso que segundo projecções tridimensionais faria parte da sua estrutura inicial. O motivo da guerra de 2019 não poderia, realmente, ter sido realmente evitado nem previsto – desde quando um parafuso a menos avisa?

no interior: “espião na primeira pessoa”

Arte no interior do livro “Espião na Primeira Pessoa” por Sam Shepard editado pela Quetzal.

uma cadeira

Um rabisco de uma cadeira.

lol, camouflage 6.0 – orange juice

lol is sitting in a chair while nibbling, indecisively, between a croissant and a pains au raisins. From the balcony of one of the rooms on the third floor of the hotel Plage des Pins he enjoys a beautiful view of the blue sea and concludes that the smell of the Mediterranean Sea in Argelés-sur-Mer has a distinct fragrance. He finishes a delicious orange juice and decides to throw some balls – A game of pétanque is taking place on the beach.
‘Bonjour! Il y a une place pour une personne? J’ai mes propre boules.’
‘Bien sûr. Nous sommes jusqu’à fini ce match.’

lol smooths his mustache, fixes the béret and waits – satisfaction.

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