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zapping

Chegas a casa depois de um esgotante dia de trabalho. Trocas de roupa e vestes algo mais confortável. Cortas um pedaço de queijo emmental e abres uma garrafa de chardonnay. Instalas-te no sofá da sala e ligas a televisão. Acompanhado pelo emmental e por um copo de chardonnay viajas por diversos canais. Petiscando dessas duas iguarias vês segundos e segundos de imagens sem te fixares em nada. Sentes crescer um torpor. É aquela sonolência reconfortante, sem hora marcada. Colocas a televisão em mute no Nautical Channel. Deitado e aconchegado até ao pescoço por um cobertor de papa deixas-te finalmente conquistar pela modorra e adormeces.

time for bed

O aviso que o meu Iphone dá para mim ir para a cama dormir.

zzzz zzz zzzzz

Há mais de 10 anos que tomava o Zolpidem porque não conseguia adormecer. Os meus fantasmas presenteavam a noite com a sua presença. Sobrevoavam como moscas sob carne putrefacta a minha cabeça; zumbindo – zzzz zzz zzzzz.

Esse zumbido não me deixava adormecer. O Zolpidem resolvia o problema.

De um momento para o outro, sem aviso prévio, sem explicação, pelo menos uma que eu entenda, o zzzz zzz zzzzz silenciou-se, puf!

Decidi no dia seguinte não tomar mais o medicamento. Não tive qualquer problema com o desmame. [1]

E estas últimas três noites têm sido uma delicia. Não me sinto adormecer, nem a sonhar – fantástico!


[1] Desmame – o tratamento deve ser retirado gradualmente. A síndrome de curta duração pode ocorrer quando é interrompida a toma, no qual os sintomas que levaram inicialmente ao tratamento com Zolpidem voltam com maior intensidade. Pode ser acompanhada de outros sintomas como alterações de humor, ansiedade e inquietação.

Infarmed

comentários

Cada noite que passa os meus sonhos têm cada vez mais comentários do realizador.

Estou a sonhar e quando “percebo” que aquilo é um pouco/muito incoerente lá me ouço a dizer “isto vai dar problemas”. 

Exemplos: hoje sonhei que uma tribo de homens que vive em comunhão com a natureza estava  admirar um veado. A louvar a sua existência. A lamentar que o tinham de matar para sobrevivem. Prepararam o arco, as flechas. Tudo foi interrompido com o barulho ensurdecedor de carros a voar pela estrada, com o seus ocupantes a descarregam cartuchos completos no veado que fugiu com o barulho, mas que não conseguiu escapar às rajadas das metralhadoras. Caiu morto. “Isto vai ser um problema”, senti-me comentar e… acordei.

Na cena seguinte o veado vai a assar, mas no último momento é substituído na grelha por um bebé. A carne começa a tostar. A cara a ficar retorcida num esgar. “Isto é doentio”, comento e… acordo.

E a noite foi passando-se desta forma.

uma explicação

Um destes dias tentei explicar a alguém e ao meu mim como funciona a minha mente, cabeça, cérebro, massa cinzenta, como diria Poirot, ao tentar relaxar para dormir ou apenas relaxar pelo relaxar.

Pensa no zapping. Clicas num botão percebes umas imagens, uns sons durante três ou cinco segundos. Clicas novamente. Outras imagens e outros sons. Três, cinco segundos. Zip. Novas imagens e sons. Zap. Imagens e sons; mais Zip e Zap. Entretanto passaram três minutos e foram vistas imensas imagens e ouvidos outros tantos sons. O que foi retido nada de nada – zero. E zero foi, igualmente, o relaxamento, ao não conseguir utilizar uma imagem/som que me fizesse descomprimir e adormecer ou esvaziar, simplesmente, o pensamento.

Acho que o mar é o meu único facilitador de relaxamento. Adoro vê-lo, sentir o seu cheiro, a sua espuma, o seu sabor salgado. Gostava de ter uma cama virada para o mar. Será o meu obscuro desejo?

Complicado? Vou tentar outro exemplo. Pode ser?

Imagina o motor de um Outerlimits 50′ Catamaran a trabalhar em ralenti. Os seus 2.500 cavalos adormecidos, em rom-rom rom-rom rom-rom. A lancha está calma. Aconchegada pelo mar. Aí carregas no acelerador, o motor ruge – vroooommm! Largas o pedal rom-rom rom-rom rom-rom. Vroooommm! Rom-rom rom-rom rom-rom. Vroooommm! E nesta subida constante das rotações o teu cérebro nunca chega a descansar. Quando menos esperas é-te arrancado um vroooommm!

Percebeste agora?

adormecer ao estilo piloto de testes

Hoje utilizei todas as técnicas conhecidas pela humanidade para adormecer e dormir e outras tantas mais desenvolvidas por mim.

Engoli um comprimido. Apaguei a luz e afaguei a cabeça na almofada de padrão florido – ainda primavera. Fechei os olhos. Iniciei a preparação para o relaxamento. Pensei… pensei que estava debaixo de uma palmeira embutida na areia que traçava uma elegante sombra sobre uma cadeira de praia na qual moi estava refastelado a ler um livro enquanto era embalado pelo som e cheiro da brisa marinha. Já sentia o cérebro a abrir as portas para Morfeu. Ah! a doce sensação de desprendimento invadia o quarto… bem-vinda!

Tudo corria bem. O vento desfraldava as velas com constância. A viagem antevia-se prometedora até pensar o quanto seria divertido se de repente a água do mar congelasse (não impliquem com a impossibilidade científica; estava a preparar um sonho, ou, melhor dizendo, o preâmbulo de um sonho) e todas as pessoas seriam fatiadas pelo gelo: as que estavam a banho, a surfar, a arrancar mexilhões; enfim todas as pessoas envolvidas com o mar de qualquer forma. Sangue, entranhas por todo e qualquer lado, crianças a chorar – desespero total. Resultado, acordei sem estar a dormir. O que se passou com o comprimido para não actuar dentro do tempo regulamentar: dez segundos, o limite para castrar pensamentos parasitas.

Acendi a luz e olhei para dentro do copo para confirmar se continha água. Estava vazio. Confirmei que tinha bebido a água, mas fiquei na dúvida se a acompanhei com o comprimido. Deveria arriscar tomar outro? Assumindo que o meu organismo já tinha absorvido um. Decidi-me pelo não. Não porque tinha receio do que me poderia acontecer com a toma de dois comprimidos, mas sim porque não me apetecia ir à cozinha encher o copo com água. E se afinal o problema não estava na medicação, mas na minha cabeça. O que se passa comigo? foi a segunda questão que coloquei. Sou realmente um máximo a colocar questões.

Duas questões. Zero respostas. Ganhou o inquisidor. Insónia foi a ordem do dia. Encerrada a sessão.

a explicação para abanar a cabeça

Sinto que estou em depressão há mais de sessenta dias. Quando este sintoma se manifesta a vontade de dormir ocorre a toda a hora e em qualquer lugar. O que é compreensível tendo em conta que não consigo adormecer nas horas ditas normais: das 00h00 às 08h00. No entanto para ser verdadeiro a narrar os factos terei de dizer que adormeço, mas não consigo dormir – absurdo eu sei. É o que acontece quando se sofre de ansiedade ao quadrado, pânico ao cubo, em suma quando se vive atrelado a um transtorno obsessivo compulsivo.

“Adormecer e não dormir” como posso explicar isso? Tenho duas teorias perfeitamente válidas.
Primeira teoria: tenho 6 fases do sono. O que faz de mim um caso clínico único. Okay. Esta teoria não tem fundamento. Afinal só tenho uma teoria válida.
Segunda teoria: tenho um superego freudiano altamente marado que não aceita o absurdo – certo/errado – do onírico. Explicando. Adormeço a maior parte das vezes rapidamente e acordo mal os meus neurónios percebem que no sonho alguma situação não está de acordo com o usual. Tipo: estou a voar e isso está incorrecto, por isso o meu cérebro como que acorda e tenta corrigir esse erro ou estou a correr muito lentamente, nunca alcançando o objecto do meu desejo. Sim, nem a dormir consigo me conciliar com o paradoxo de Aquiles e a tartaruga. E, como tal, passo o resto da noite a forçar um sonho aceitável no qual sou um ninja, alguém com o poder de atravessar paredes ou estou a ser bajulado por um milhão de ursos de peluche vivinhos da silva – são energizados por pilhas Duracell. Entre este acordar/sonhar/forçar acabo por nunca conseguir dormir em perfeita sintonia com o colchão. Como dá para perceber esta teoria é a que mais pernas tem para avançar.

Por hoje, chega de explicação. Vou meter as mãos nos bolsos da minha pele e sonhar ou adormecer a tentar.

há noites…

Há noites em que sonho com os meus mortos; aí vivem através de mim e nesses momentos inventamos novas alegrias que, contudo, se desvanecem no acordar. Acordo sempre com mais vontade de sonhar.

reais

Os meus sonhos têm sido tão vívidos que não me deixam mergulhar nas profundezas do sono. Estranho!

cheio de tosse

Ele caminhava com uma caixa cheia de tosse que abria aqui e ali. Ele poderia ser muitas coisas, mas não era uma pessoa egoísta. No final do dia, ele olhava para a caixa vazia com orgulho e adormecia sempre feliz, embalado pela tosse que na rua era cantada em harmonia.