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expressamente 1.0

Muita boa gente, e outra tanta má, utiliza as redes sociais para expressar o amor, a raiva, as injustiça e as traições cometidas e sofridas, porque esse mural virtual é muito superior ao muro das lamentações ou ao Speaker’s Corner. Quando descobri que certas coisas não eram tal como eu imaginava fiquei chocado. Hoje vou, por isso, fazer o mesmo e expressar algumas das minhas desilusões e tristezas no Facebook:

  1. o carteiro nem sempre toca duas vezes; felizmente deixa aviso de encomenda não levantada
  2. chamar o elevador não é dizer, nem gritar “Elevador, Elevador”, mas afinal carregar num botão

E é tudo por agora.

contagens

Subi as escadas de mármore castanho. Contei dez degraus até ao primeiro patamar. Virei à esquerda e contei onze degraus. Novo patamar. Parei perante a incoerência da contagem. Desci até ao rés-do-chão para recomeçar a contagem e aí chegado insultei-me por não ter iniciado a contagem ao descer. Desta feita contei onze degraus – aqui estava a explicação. Reiniciei a subida lamentando o erro da primeira contagem e um arrepio desceu pela coluna. Estremeci. A contagem até ao segundo patamar foi de dez degraus. Senti um sufoco. Tonturas. As paredes começaram a abafar-me. Colei-me à parede atordoado. Confuso tentei convencer-me de que a minha obsessão pelo equilíbrio e coerência estava a transformar-se num problema. Desci acelerado os dois patamares. Respirei fundo. Reiniciei a subida. Dez degraus, esquerda, dez degraus. A harmonia desceu sobre mim. Sorridente iniciei a escalada de um novo patamar: contagem dez degraus – tudo certo. Nova viragem à esquerda e onze degraus. Como? Como? Limpei as gotas de suor que escorriam pela testa. Desci os patamares tentando não pensar muito no assunto. Entrei no elevador e carreguei no botão para o segundo andar. A porta fechou-se e a subida iniciou-se suavemente. O elevador parou com um ligeiro solavanco. A porta abriu-se e perante mim exibiu-se em plena claridade o rés-do-chão.