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harmonias

Conforme o sol se ia diluindo no mar os corvos que sobrevoavam ruidosamente a Casa da Bruxa iam sendo pintados de laranja, vermelho, violeta – um caleidoscópio de cores. Quando a escuridão pintou a noite de negro fechei os olhos e deitado sobre a areia da praia adormeci embalado pela harmonia sonora das ondas e pelo crocitar fantasmagórico dos corvos.

em linha directa

Tenho uma colega sentada à minha frente. Linha directa quatro metros. Tapada por um monitor de 19”. Sentada não a vejo (é pequena). Mas ouço-a – irritantemente. O som que emite é um grasnar e um zurrar demoniacamente combinados. Se isso já não pernicioso per si ainda se dedica a trautear as músicas que passam na rádio. Uma vaca a caminho do matadouro consegue ser menos dramática. Hoje, não sei como, está a ser mais colérica. Não sei quanto tempo mais aguento. Atirei-lhe um agrafo que ficou abafado na enorme peruca a que chama cabelo. Arremessei uma régua de dez centímetros que colidiu contra o monitor. Nem se mexeu. Nada de grave. Peguei no meu teclado QWERT e sem qualquer sobressalto enfiei-o à velocidade da escuridão no lado esquerdo da sua cara. Ela começou a sangrar da boca. Gemeu uns gemidos nauseabundos. Pumba e carreguei-lhe novamente com o teclado. Calou-se. E desfalecida encontrou o chão. Do teclado saltou apenas a tecla F1 que ficou languidamente pousada ao lado da sua cara. Sentei-me na cadeira vazia. E de olhos fechados esperei. Sosseguei. Esperei.

sufoco

sufocado pela antítese
na escuridão do dia
gritei em silêncio.

na placidez da tormenta
sonhei acordado
com anjos diabólicos.

e enquanto a alegria me entristece
a dialéctica em garrote
argumenta-se de libertadora.

not yet

Desde que descobri as histórias com 10 palavras que me divirto a “tentar” criar histórias. Hoje ao ver um esqueleto estas dez palavras saltaram para o papel.

‘Está escuro aqui. Estou morto?’
‘Ainda não,’ cochichou a Morte.

01.02.s

Aqui vos apresento a primeira experiência da segunda série.
Não sei desenhar, e não tenho ninguém desocupado para desenhar as minhas histórias, decidi, à semelhança daquele realizador de cinema que filmou o primeiro filme para passar na rádio, criar uma banda desenhada, curta, quase exclusivamente a preto.

Estou contente com o resultado final.