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2 metros

— Meu… por que não usas máscara quando sais de casa?
— Só a uso quando percebo que terei pessoas num raio de dois metros – medido a olho, claro. Até agora só me cruzei com gatos, cães e outros animais que tais.
— A sério?
— Viste que consegui fazer uma rima com ais. Lindo. Mesmo lindoooo!
— Houve lá, não estás comigo desde que deixas a tua casa?
— E?
— E? Então não sou uma pessoa e não estou a menos de dois metros?
— Ah! Ah! Vejamos. Sinceramente. Ah! Nunca te vi muito bem como uma pessoa. Para mim és mais um rato, uma lesma. Uma perturbação na força.
— És doente. Sabias?
— Nem te respondo caracol, mas coloco um máscara – satisfeito? Tens aí uma que me emprestes?
— Uma máscara não se empresta e não, não tenho mais máscaras.
— Então temos de nos afastar dois metros.
— E coomooo se estamos num carrrrroooo.
— Que violência man. Simples.
Parei o carro e pedi educadamente ao caracol que abandonasse a viatura. Fê-lo a exibir uma cara de radiante espanto a raiar a estupidez.
— Satisfeito? — não me respondeu. Não entendo aquelas pessoas que nunca estão satisfeitas.

crise de gota

Sofri no passado domingo a primeira crise de gota – porra!

Podia ser uma crise de amnésica, uma crise de sorte, uma crise ambiental, um crise cubana, em última recurso uma crise de estupidez, mas não, não teve de ser uma crise de gota. Uma cena que não é motivo de orgulho para ninguém. Acordar com dores enormes no dedão do pé direito, assistir ao seu crescimento, à sua deformação foi inesquecível.

Na unidade de saúde a que me desloquei para perceber o que se passava tive de passar por uma máquina que detecta, quase automaticamente, a temperatura corporal – colocava a testa, a mão direita, a mão esquerda, as palmas, mas apenas passados 3 minutos é que a máquina debitou “35.3 graus” e lançou jactos de vapor desinfectante e passei à fase seguinte: sala de espera.

Estamos, realmente, num mundo em que a alienação é a ordem do dia. Dentro daquela máquina, senti-me pela primeira vez, alienado – vítima inocente ou não de uma maluquice mundial.

b.o.s.s.

Já aqui falei do C.H.E.FE., do E.N.CA.R.R.E.G.A.D.O. e do P.R.O.F.E.S.S.O.R. por isso chegou a altura de falar do B.O.S.S., o supra-sumo do requinte organizacional, o exemplo da reengenharia “estamos aos papéis”.

Um B.O.S.S. quando é um verdadeiro B.O.S.S. toda a gente repara nele. É uma pessoa realmente bestial; capaz de cenas altamente maradas.

O B.O.S.S. é carinhosamente conhecido entre os amigos fictícios e reais inimigos como uma Besta Orgulhosamente Senhora de Si.

la casa de papel, s03

Já não tem a frescura das primeiras duas temporadas e não é por ser mais do mesmo, mas porque tem uma falha, quanto a mim, monumental. Com tanto dinheiro uma plástica não seria nada de complicado tendo em conta até que o Professor se movimenta bem nos meandros do crime, mas… a estupidez impera na terra dos génios – também.

Tive a mesma sensação com a série Prison Break. Acho que há séries que não deviam ter mais do que uma ou duas temporadas.

Claro que a Teoria do Big Bang é mais do mesmo, mas também não tem pretensões a ser mais do que isso.

Agora esta La Casa de Papel veste-se como um manifesto político/social, porque:

O Estado pode aceitar que teve que colocar o exército nas ruas. O Estado pode permitir que entre na Reserva Nacional e roube o ouro, mas há algo que não podem permitir. Ele não permite que descubram os seus segredos.

Season 3, episódio 5

E ao tentar ir mais longe comete erros, atrás de erros que se tornam tão obtusos e repetitivos que até assustam. Chega uma altura que a falta de discernimento das personagens cansa, realmente cansa.

p.r.o.f.e.s.s.o.r.

O combate ao Coronavírus – COVID-19 pode passar por em colocar na linha da frente seres que têm habitado locais inóspitos, áridos nos quais o vazio cerebral e corporal é quase, quase garantido e os vírus não se propagam no vácuo! Estes locais são, para quem desconhece, as Pousadas Remotas Onde Fecundam Estúpidos Sisudos e Solenes de Olhar Resiliente; localidades mais conhecidos como P.R.O.F.E.S.S.O.R.

Esperemos que estas armas de estupidez massiva seja uma das soluções.

covid-19 vs estúpidos?

Os estúpidos não são afinal capazes de conter o Coronavírus – COVID-19. Apesar de todas as medidas tomadas a estupidez continua a progredir a um ritmo galopante e não revela sinais de abrandamento.

Os investigadores pensavam que o vírus fosse de alguma forma capaz de reduzir os obtusos, mas tal verificou-se infundado. Mesmos vítimas do vírus os estúpidos continuam estúpidos como sempre. Podem recuperar do Coronavírus, mas a estupidez está de tal forma imbuída no tecido cerebral que não existe qualquer solução; por sinal até pode potenciar a maleita.

Pelos vistos o Coronavírus – COVID-19 é democrático e atinge todos por igual. Nunca será acusado de racismo, parcialidade, xenofobia, sexismo, de ter, enfim qualquer tipo de preconceito.

a sério? mesmo a sério?

A escritora Charlotte Alter ao falar sobre o seu livro “The Ones We’ve Been Waiting For” no The Late Show Setphen Colbert, emitido em 26.02.2020, exibido ontem na Sic Radical, consegue sem qualquer dificuldade revelar um grande grau de estupidez quando afirma o seguinte:

Harry Potter foi um fenómeno cultural sem precedentes. Literalmente sem precedents na história da literatura humana. Mais pessoas consumiram Harry Potter no tempo em que foi criado do que em Dickens, Shakespeare ou qualquer outra grande obra de literatura que se possa imaginar.

Charlotte Alter

Vamos comparar o mundo como o era em 1920, data de publicação do livro “Este Lado do Paraíso” de F. Scott Fitzgerald, cuja primeira edição esgotou em poucos dias, ou como o era no século XIX com Dickens, que com o seu “Oliver Twist” alcançou fama a nível mundial, ou com Alexandre Dumas: o seu “Os Três Mosqueteiros” já tinha em 1846 três edições em inglês.

Será que Charlotte Alter consegue perceber a diferença da nossa aldeia global, termo de Herbert Marshall McLuhan, com a informação a alcançar qualquer lugar, esquina do planeta em segundos, com a forma como a informação circulava no século XIX ou até durante muito tempo no decorrer do século XX? Acho que não.

Estamos, realmente, a falar de coisas diferentes.

e.n.c.a.r.r.e.g.a.d.o.

É mais que certo que o mundo do trabalho está cheio de fungos capazes de quebrar as restrição térmicas que têm protegido a sanidade do trabalhador. Contudo e tendo em conta que as alterações climáticas estão a originar o aparecimento de alguns nabos laborais foi criado um analista de risco: o E.N.C.A.R.R.E.G.A.D.O. [Elegante Nabo Capaz de Alcançar Ridículos Raciocínios Enquanto Garante Actividades de Desgaste Operacional]

convento della carità

@ six days in the veneto

No seu livro “Viagem a Itália” Goethe fala deste convento e em particular de umas escadas em caracol. Curioso fui à pesquisa. Este convento foi projectado por Andrea Palladio. A sua construção decorreu de 1561 a 1562, e ficou incompleta. O que fez soltar esta pergunta ao escritor:

Ah, caro Destino, tu que favoreceste e eternizaste tanta estupidez, porque é que não deixaste que esta obra se realizasse?

página 114

Sobre as escadas:

Mas apressei-me a ir até à Carità (…). De um dos lados fica a sacristia, do outro uma sala do capítulo, ao lado da mais bela de caracol do mundo, com uma espiral larga e aberta, os degraus de pedra metidos na parede e sobrepostos de tal modo que um sustenta o outro; não nos cansamos de a subir e descer, e podemos ter uma ideia da sua harmonia se nos lembrarmos de que o próprio Palladio a considera uma obra perfeita.

páginas 113/114


Photo by @ Six Days In The Veneto

you

A série de televisão You, baseada no livro de Caroline Kepnes, segue a obsessão de Joe Goldberg (Penn Badgley), gerente de uma livraria de Nova York, pela cliente Guinevere Beck (Elizabeth Lail).

Fui ver esta série motivado por um comentário positivo de S.

A série não é perturbadora, mas cómica. Vejamos:

  • temos duas personagens ocas e monótonas:
    • a personagem feminina, Guinevere Beck, é escritora, mas não escreve nada… ah exceptuando que publica toda a sua vida privada nas redes sociais
    • a personagem masculina, Joe Goldberg, não tem qualquer carisma e tira conclusões tão óbvias como se fosse um triste pastiche de Sherlock Holmes
  • a janela do apartamento de Guinevere Beck é por si só uma personagem e tanto
  • Joe Goldberg é um perseguidor de uma rapariga que vive num rés-do-chão com uma gigantesca janela sem cortinas e à frente da qual ela faz tudo – não é exibicionismo é estupidez
  • Joe Goldberg é um perseguidor que com apenas um boné consegue camuflar-se em qualquer ambiente; melhor do que um camaleão – Guinevere Beck e as amigas além de fúteis são cegas como morcegos

Tudo o que posso concluir é que única coisa positiva a retirar da série é apenas o comentário positivo de S.