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01 a 10, as perguntas

01. Qual a origem do seu nome?
— Os meus pais copiaram o meu nome de um saco de plástico.

02. Qual a última vez em que chorou?
— Hoje, após perder uma corrida contra um caracol.

03. Qual é a sua carne favorita?
— Carne morta.

04. Ainda tem as suas amígdalas?
— Sim, num frasco.

05. Acha que é forte?
— Sou forte e pesado. Pesadamente forte.

06. Qual a primeiro coisa que repara nas pessoas?
— A sombra.

07. Futebol ou basebol?
— Xadrez.

08. Cheiro favorito?
— Um livro aberto.

09. Filmes de terror ou filmes com finais felizes?
— Bons filmes.

10. Dia favorito da semana?
— Todos os dias são santos dias.

entre abraços

O postigo abriu-se e uns olhos inspectivos fizeram uma pergunta silenciosa. Respondi, “Sorrir e acenar.” A porta foi aberta e na minha imaginação esperava ouvir um assustador rangido, mas nada se ouviu; deslizou silenciosamente. Na antecâmara um cartaz informava que me devia despir – fi-lo. De seguida passei por uma portada que me mediu a temperatura e me aspergiu o corpo com desinfectante. Vesti um fato-macaco descartável, antiepidémico e antibacteriano. Quando fiquei totalmente artilhado a luz existente por cima de outra porta acendeu verde. Abri-a e entrei num espaço mais que amplo e brilhante. Solucei em face do que vi: um paraíso de abraço e mais abraços. Exibiam-se casais abraçados, abraços em grupo. Ah! Que visão. Aproximei-me de um casal e cerquei-os com dois braços desejosos de contacto humano. Chorei quando o meu contacto foi retribuído e ali naquele momento senti-me o mais feliz dos mortais. Já não me recordava o quanto um abraço é especial. Abraçado e a abraçar rosnei uma prece de ódio à maldita pandemia.

oton lustosa

O homem não busca apenas satisfazer as suas necessidades materiais. Para viver, plenamente, busca a satisfação espiritual. Cheio de poder, posto que dotado de inteligência – esta explosiva força criadora -, o homem transforma o mundo. Escarafuncha, mexe, bisbilhota as coisas da Natureza… Queda-se extasiado diante das belezas naturais… Encafifa-se com os mistérios que levam à perfeição das coisas criadas… Chega a uma conclusão derradeira, inapelável: Deus existe! Mas… De tanto investigar termina por concluir que algo deve ser melhorado ainda neste mundo de Deus. Quer o homem o mundo ao seu serviço, útil e prático; que lhe proporcione um estado tal de bonança, inenarrável, sublime. Algo a que deu o nome de Felicidade! Eis o objetivo primeiro e último do gênero humano: Ser Feliz! Por isso transforma, modifica, cria, destrói, luta. E a tal felicidade como uma miragem, ora perto ora longe. E haja esperanças e haja angústias e haja sonhos! Ah! os sonhos!… Quer o homem, em pleno estado de vigília, entender os sonhos, torná-los concretos. Freud bem que tentou ensinar a fórmula. Mas a psicanálise freudiana, para muitos, ainda é um imenso labirinto onírico. Por isso, em perseguição dessa tão sonhada felicidade, o homem desanda a sofrer. Busca, finalmente, um lenitivo para essas dores do espírito. Põe-se a serviço da construção e da contemplação da Beleza. Nesta sua caminhada terráquea, a estação que o leva a mais se aproximar da felicidade é a contemplação da Beleza. É aí que as artes ocupam importantíssimo papel na vida do homem. Aliás, ouso dizer, sem a arte – expressão maior da inteligência humana -, o homem não passaria de um miserável bicho bípede, deslanado, sem cauda, sem garras, despreparado para a caça e para a pesca; e sem nenhuma chance de cavar, mergulhar e voar. Mas o homem, ser divino, tem a Inteligência!… Que o leva ao trabalho maneiroso, ao engenho, à arte, à perfeição, ao amor… E ainda o levará à felicidade!

Oton Lustosa

Texto extraído do discurso de posse do escritor Oton Lustosa na cadeira n° 05 da Academia Piauiense de Letras.

a vida feliz de elena varvello

Isto diz tudo:

Uma história que comprime muitos temas e géneros, da violência sobre as mulheres à doença mental, do romance de formação ao livro de suspense – sobre os fantasmas que se materializam ainda, muitos anos depois, quando tudo já acabou.

Corriere della Sera

… uma leitura estimulante.