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dualidades

gregory

As duas capas do livro Sucesso de Martin Amis.

sucesso de martin amis

É um livro de mentirosos. De mentiras. De enganos. Desenganos. Os dois narradores Terry e Gregory mentem com quantos dentes têm e sem dentes. Enganam-se a si próprios e ao leitor. O leitor é o recipiente último das loucuras, divagações, preocupações dos dois narradores.

a narração de Terry:

— Olá — disse eu. — Como te sentes? Como foi o teu dia?
— Qual dia? — perguntou ele.
— A coisa está má, hein?
— Absolutamente um horror. A manhã de hoje parece tão longe como a infância. Sinto-me tão fraco que não posso fazer nada para passar o tempo. E assim o tempo não passa.
Perante o belo incentivo deste queixume agradavelmente ensaiado, quase deixei cair o meu saco do álcool quando o Gregory disse a seguir, num tom interrogativo:
— Terry, fica cá em cima esta noite e anima-me. Vá lá. Nem sei dizer como estou deprimido. Por exemplo, conta-me o teu dia. Como foi? Anda, serve-te de um copo e senta-te (…)

página 134

e a de Gregory:

— Greg, estas acordado? — chama ele.
— Acho que sim respondo.
— Olá. Como estás? Como to sentes?
— Sobe?
Comovente, isto. A minha doença parece ter tornado fácil ao Terry expressar a sua total preocupação comigo. Todas as outras coisas que empecilham as nossas relações, toda a inveja, espanto e culto do herói passaram para segundo plano por uns tempos.
(…)
E arrancou… para uma história miserável sobre um ou outro daqueles cretinos, labregos e pseudogente que trabalham no mesmo chiqueiro tenebroso que ele.

página 139

No meio de esperanças, narração de sonhos perdidos, conquistas não conseguidas o leitor vai descobrindo duas personagens que se odeiam mutuamente, mas que perfidamente precisam uma da outra para se odiarem – o ódio é o que as une; ódio a si, aos outros.

O humor, o sarcasmo, a ironia são as notas constantes – uma maravilha este “Sucesso” de Martin Amis.

Tradução de Telma Costa

sucesso do ovo

Quase sempre a vinheta no interior dos livros da Quetzal Editores têm como ponto de partida algumas palavras da história. A maior parte das vezes não coloco essa referência pois a descubro dias, ou semanas após colocação do post. No presente caso, porque sim, coloco a referência ao ovo da vinheta do livro “Sucesso” de Martin Amis.

(…) Lembro-me de que acabava de despachar a cozinheira com umas palavras duras sobre a consistência do meu ovo quente e, enquanto esperava os 285 segundos necessários à preparação do substituto, recostei-me na cadeira estimulando o paladar com um pedaço de torrada e Gentleman’s Relish.

página 63

no interior: “sucesso”

Vinheta no interior do livro Sucesso de Martin Amis desenhada por Rui Rodrigues. Edição pela Quetzal Editores.

o comboio da noite de martin amis

Mike Hoolihan, uma mulher polícia de uma cidade americana, depara-se com a morte suspeita da jovem Jennifer Rockwell. Mike conhecera-a: era muito bela, inteligente, amorável, gregária, uma criatura extraordinariamente adorada por toda a comunidade. Encontrá- -la morta em casa, com um tiro na cabeça, foi um choque tremendo, e maior ainda foi a perplexidade quando todos os indícios apontaram para o suicídio. Até mesmo o facto suspeito de terem sido disparados não um mas três tiros pôde ser rapidamente explicado. 

Bertrand

Outro excelente livro de Martin Amis.


Tradução de Telma Costa

no interior: “o comboio da noite”

Vinheta extraída do livro “O Comboio da Noite” de Martin Amis editado pela Quetzal.

E uma fotografia.

tradutora: telma costa

Pequena biografia da tradutora Telma Costa retirada do livro “O Comboio da Noite” de Martin Amis publicado pelas Edições Quetzal.

lançamentos 07.2019 / 08.2019

O que me interessa dos lançamentos, fora os livros da colecção Terra Incógnita da Quetzal, são:

  • Autobiografia de José Luís Peixoto [Quetzal Editores]
  • Banquete no Paraíso de Donald Ray Pollock [Sextante]
  • A Era dos Muros de Tim Marshall [Desassossego]
  • Eu sou Dinamite! A vida de Friedrich Nietzsche de Sue Prideaux (apesar de editado em 04.2019 apenas soube deste hoje) [Temas e Debates]
  • O Comboio da Noite de Martin Amis [Quetzal Editores]

E estes foram os livros descobertos a ler o Jornal de Letras.

tradutor: josé vieira lima

José Vieira de Lima nasceu em 1951, em Almada, cidade onde – na adolescência – esteve ligado à criação de um cineclube. Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, a sua experiência profissional incluiu quinze anos de jornalismo (na agência de notícias France-Presse) e, finalmente, várias décadas de tradução literária (desde 1986), que começou com Sam Shepard e abarcou uma grande variedade (quase uma centena de títulos) de autores, de V.S. Naipaul a Henry James, passando por Julian Barnes, Edith Wharton, Martin Amis, Edmund White, John Le Carré, Marguerite Duras, Hanif Kureishi, Colm Tóibín, Dick Bogarde, Isabel Allende, Salman Rushdie, Allan Hollinghurst, Colleen McCullough, Paul Auster, David Leavitt ou Samuel Beckett. Beckett (sobretudo Happy Days) foi precisamente, como em tempos afirmou, o autor que mais gostou de traduzir.

Quetzal


Breve biografia sobre o tradutor José Vieira Lima extraída do livro “Hotel Silêncio” de Auður Ava Ólafsdóttir, editado pela Quetzal.