Inócuo é a palavra do dia nas suas metamorfose masculina e feminina. (Palavra masculina é feminina, mas relativa a homem – masculino; adjectivos inócuos.)
Inócuas são as palavras. Inócuas são as mortes e os nascimentos, os movimentos e os pensamentos. A guerra e paz são inócuas. Pessoas inócuas, mortais, venais. Religiões inócuas. Acres massacres inócuos. Sexo inócuo. Orgasmos inócuos. Inócuos agentes activos, reactivos, passivos. Ordem e desordem inócuas. Sentimentos, ilusões, confusões, multidões, mutilações inócuas. Alimentos inócuos.
O tempo não é inócuo. Assistir à passagem do tempo é inócuo. O tempo é.
Ao longo de quatro anos, Jorg cresce no seio de batalhas sangrentas, amadurece em guerras impiedosas, torna-se um guerreiro cruel e vai ganhando o respeito dos seus irmãos até que se torna o seu líder. Agora, um reencontro vai levá-lo de volta ao castelo onde cresceu e ao pai que abandonou. O que vai encontrar não é o mesmo sítio idílico de que se lembra, mas o príncipe que agora retorna também não é mais a inocente criança de outrora, é o Príncipe dos Espinhos. Com apenas 9 anos, numa emboscada planeada pelo inimigo para erradicar a descendência real, o príncipe Jorg Ancrath é atirado para dentro de um espinheiro, onde fica preso, com espinhos cravados na sua carne, a ver, impotente, a mãe e o irmão mais novo a serem brutalmente assassinados. De alma destruída, sedento de sangue e de vingança, Jorg foge da sua vida luxuosa e junta-se a um bando de criminosos e mercenários, a quem passa a chamar de irmãos. Na sua mente há apenas um pensamento, matar o Conde de Renar, o responsável pelas mortes da mãe e do irmão, pelas suas cicatrizes e pela sua alma vazia.
Topseller
Depois de um planeta terra devastado por uma, aparente guerra nuclear, as pistas estão lá, surge milénios depois um mundo de fantasia dilacerado pela guerra. E é neste novo mundo medievo que a personagem Jorg Ancrath percorre o seu caminho de vingança.
Temos uma história bem cadenciada, violenta, até mais violenta do que a A Lâmina, na qual a crueldade é o prato do dia.
A personagem Jorg é amoral, e está bem acompanhado pelos seus “irmãos”, e apesar de ser cruel, maldita desejamos que vença. O mal tem de compensar… às vezes.
Gostei. Foi mais do que catita.
Tradução de Renato Carreira
https://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2019/01/logo-portaviii.png00porta VIIIhttps://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2019/01/logo-portaviii.pngporta VIII2020-06-15 08:04:542020-06-15 08:04:55príncipe dos espinhos de mark lawrence
Sou uma pessoa de rotinas e quando me deito, à hora do costume, gosto de ter pensamentos positivos. Não é que uma destas noites veio-me à memória um poema (?) lido há mais de 30 dias numa casa-de-banho em Coimbra. Foram minutos e minutos de gargalhadas. Ora veja-se:
A cagar fiz um charro A cagar o acendi A fumar caguei para ti.
Quando apanho boleia para o meu local de trabalho gosto de esperar durante, cerca de, quinze minutos e aproveitar o tempo para ler. Assim estou preparado para o dia que se inicia. Se for a pé a deslocação é feita ao som da música. Momento para o pensamento divagar alegremente.
Wearing a turban, his body covered with sandalwood ashes and painted with dye, his face decorated with an outline of a black beard, precariously wrapped in a ragged saffron robe, fastened on a piece of rope is a loincloth that pretends to hide his nakedness, with sacred beads and sequins around his neck, a gold chain looped on his right ankle, which makes him appear to be a young sadhu although he does not have any tilaka on his forehead, he walks through Rishikesh towards Haridwar.
A smile of pure satisfaction radiates from his face as his senses embrace the colors, smells and flavors of the spice stands that surround him.
Sitting near the bank of the Ganges River, wearing the shade of a tree, after having crossed the Laxman Jhula Bridge, he realizes how magnificent the smells of Rishikesh are and is proud to have chosen this pilgrimage route to the Maha Kumbha Mela. ‘It is incredible how in a crowd one can better perceive healthy solitude’ is the thought that arises before the undulating mystique of the Ganges River. It is this refuge that he needed and also the absorption of millennial energies.
It is almost sunset. The young sadhu rises and as he leaves behind the Ganges the aquatic magic is diluted harmoniously in the bustle of the metropolis and he feels like the link that unites the two landscapes. His readings taught him that there may be no chaos in chaos, as there may be no order in order, but these maxims begin to be broken when he is surrounded by a group of tourists who had hitherto been photographing the exterior of Trayambakeshwar.
‘A HOLY MAN!’ they shouted.
‘Holy? Where?’ he questions himself, but as he is pointed out by cell phones, he suspects that they think he is the saint, ‘crazy people!’
Estes encontros, compostos por quatro debates: 16, 19, 21 e 23 de Janeiro, estão integrados nas comemorações do 40º aniversário do ILCH e pretendem abordar a relação entre a literatura e a banda desenhada, ou como referiu o Prof. Manuel Curado na sua mágica intervenção “o que cola“.
No dia 16 tivemos: Herdeiras de Wonder Woman. As Amazonas na Ficção Popular Contemporânea
Desde a criação de Wonder Woman em 1941, abundam na ficção popular as mulheres que defendem pela força a liberdade de decidir o seu destino. Entre elas, contam-se Katniss Everdeen (Os Jogos da Fome) e Lisbeth Salander (Millenium. Os homens que odeiam as mulheres). Com Diogo Carvalho, exploramos os modos como estas personagens contribuem para a vitalidade e diversidade da nova mitologia das amazonas.
Encontros de Literatura e Banda Desenhada
Hoje será: Maus, de Art Spiegelman. Um romance Gráfico do Holocausto
Um testemunho real de um sobrevivente de Auschwitz, é isto, entre muitas outras coisas que podemos encontrar neste romance gráfico de Art Spiegelman. Com Marie Manuelle Silva, abordamos as técnicas gráficas, os recursos narratológicos e as figuras estilísticas que o autor usa para representar o Holocausto de forma real e impactante, inscrevendo este estrondoso sucesso de público e de crítica em diferentes correntes da tradição literária e da tradição ilustrativa.
Encontros de Literatura e Banda Desenhada
No dia 21 será: O Motivo do Herói Órfão. Oliver Twist e os Heróis da Banda Desenhada
Quantos heróis que conhecemos são, de uma ou outra forma, órfãos. Trata-se de uma lei ou de puro acaso? Tendo Oliver Twist de Dickens como ponto de partida e Margarida Pereira como convidada, iremos procurar na literatura a origem deste motivo presente na BD e nos Comics.
Encontros de Literatura e Banda Desenhada
No dia 23 será: Para Além do Véu. Persépolis, de Marjane Satrapi
Conversamos com Said Jalali sobre o romance autobiográfico de Marjane Satrapi, Persépolis, que é o olhar de uma menina sobre as alterações radicais introduzidas pela revolução de 1979 na vida quotidiana da sociedade iraniana. Romance de formação escrito e desenhado num contexto de deslocamentos geopolíticos e geoculturais à escala global, Persépolis narra os exílios de Marjane – tanto fora como dentro do Irão.
Encontros de Literatura e Banda Desenhada
Herdeiras de Wonder Woman. As Amazonas na Ficção Popular Contemporânea teve como convidado Diogo Carvalho.
Antes da sua apresentação foi nos oferecida uma mágica intervenção pelo Prof. Manuel Curado. Esta intervenção foi de tal forma intensa, poética que logo se percebeu que a noite ia ser em Grande. O Prof. Manuel Curado revelou sem sobressaltos e com um dialéctica argumentativa tão bem tecida a razão da literatura, nas suas mais diversas formas, nos invadir os sentidos desde sempre. O Prof. Manuel Curado provou ser o nec plus ultra do mágico das palavras e conseguiu deliciar-me ainda mais quando terminou o seu acto com as palavras “o diabo do espelho.“
diogo carvalho
Diogo Carvalho, a razão que me dez deslocar a Braga, esteve perfeito a falar, sem papas na língua, sobre a Wonder Woman per si, falou nas mudanças no seu uniforme (como sinal dos tempos), os seus motivos como heroína, o seu protagonismo e a forma como foi/está actuando/actuar no universo de super-heróis. Conseguiu em poucas palavras contextualizar a sua criação, com doces e picantes pormenores. Falou do seu multifacetado criado, William Moulton Marston. Falou do presente e do futuro da Wonder Woman.
Quanto a Katniss Everdeen e Lisbeth Salander como amazonas herdeiras da Wonder Woman o que fica em resumo é que ambas são os Alpha das suas histórias. Como mulheres fazem, “e como colocar isto sem ofender, mas tendo de utilizar um cliché“, perguntava Diogo Carvalho, “um bom trabalho de homem. Ou melhor, um trabalho atribuído geralmente ao homem.”
Katniss Everdeen faz o que faz por amor à irmã, ofereceu-se como tributo, e acaba por agir sempre por estímulo. Perante um problema, age. Não cria problemas, mas encontra soluções por… impulso. E perante uma sociedade distópica, acaba por ser ela, pela sua perseverança, coragem, abnegação, a alavanca (“Deem-me um ponto de apoio e moverei a Terra.”) para derrubar o sistema por dentro – implosão.
Lisbeth Salander faz o que faz por vingança. Ao contrário de Katniss Everdeen, Lisbeth Salander perante uma situação adversa, raramente age por impulso. Tudo é planeado. Ela está por fora de um sistema deficiente, corrupto e as suas acções levam a que este expluda.
Foi colocada uma questão. Se elas são o que são ou fazem o que fazem por não estar presente a figura do pai – acho que a ideia da pergunta é esta (contudo, posso estar errado).
A pergunta é interessante e a resposta aceite é que em ambas o pai, pode ou ser o modelo ou a motivação para elas serem como são – fortes, independentes.
Quanto a Katniss Everdeen é fácil concluir que é a ausência do pai que a torna o que é uma Alpha. É ela a razão de a mãe e irmã estarem vivas.
Quanto a Lisbeth Salander foi a existência de um pai que a torna Alpha por competição e sobrevivência.
Se o papel poderia ter sido atribuído a um homem? Podia, mas o efeito não seria tão másculo.
Katniss Everdeen e Lisbeth Salander comprovam acima de tudo que qualquer ser humano consegue ser Homo homini lupus. Apenas são precisas certas circunstâncias, uma série de eventos catalisadoras da nossa natureza predatória.
Isto são pensamentos avulsos que fui tendo e que decidi agora transcrever.
Avalio positivamente o encontro. Adorei as conversas muito interessantes e estimulantes. Os alunos do Mestrado de Mediação Cultural e Literária estão de parabéns.
https://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2016/01/1916996.jpg768800porta VIIIhttps://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2019/01/logo-portaviii.pngporta VIII2016-01-18 01:26:112020-11-25 16:19:31encontros de literatura e banda desenhada – amazonas contemporâneas
Tenho este livro, A Dance with Dragons, para ler desde 2011. Li os primeiros 4 livros de uma assentada com um grande prazer. Depois esperei pacientemente pelo lançamento do quinto volume. Assim que esteve disponível comprei a versão original e comecei de imediato a sua leitura.
A questão é que até ao dia de hoje ainda não finalizei o livro e não estou, também, a visualizar a série – deixei de a ver na temporada 3 (salvo erro).
O motivo que me leva a não pegar no livro e retomar a sua leitura está envolto na penumbra: ou é o peso, mais pesado que um tijolo, ou o número de páginas, são 1152, ou apenas o não ter, realmente, paciência para histórias que se prolongam ad eternum.
São mais pensamentos avulsos ou diários de sanita.
https://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2019/05/book-051.jpg1067800porta VIIIhttps://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2019/01/logo-portaviii.pngporta VIII2015-05-22 11:36:222020-11-24 16:44:13a dance with dragons
Hoje sonhei com uma gaja, sim, uma gaja, uma garina, inglês falante, mesmo muito boa (tinha de ser, obrigatoriamente boa, senão para quê sonhar). Com ela tive uma conversa, o sacana do ID não deixou avançar para outras ondas, que incidiu sobre os diversos significados da palavra “pito”. Entendi que essa palavra permitia uma suave aproximação às fantásticas nuances da língua portuguesa.
Assim, iniciei uma sonhadora tradução explicando a originalidade da nossa língua que poderá ser um sucesso no intercâmbio cultural/social:
“I like pito’s rice.” – referente a um adorável prato da cozinha portuguesa.
“This pito makes a lot of noise!” – as galináceas vivas fazem um barulho chato; principalmente as galináceas chamadas de fracas.
“I liked to eat your pito.” – referente à vulva (uma coisa sexual!); o único motivo para existir a palavra pito.
“You are a true pito.” – um elogio a uma gaja boa; um piropo clássico.
Penso que pensamentos como estes animam a massa anímica de qualquer povo. Sinto-me feliz por este rasgo de verbosidade.
Entrei na Trindade com destino a Vila de Conde. O metro quando chegou à estação da Fonte de Cuco estava completamente cheio; transpirava pessoas por tudo o que era sítio.
Corria tudo bem, estava a curtir uma boa leitura e uma doce música, até entrar um velhote na estação de Esposade que petrificou o olhos em cima de mim; o olhar suplicava o meu lugar. Que cena! Dirigi a vista para os lados e não pude deixar de constatar que estavam no compartimento pessoas mais novas do que eu. Que fossem elas a ceder o lugar. Hoje em dia há cada marado.
Mais um solavanco e foi com dificuldade que o velhote se aguentou a pé, apesar de estar abraçado a um varão. Vi-lhe gotas de suor a escorrer pela cara; só faltava o sujeito ter agora um ataque de coração. A agravar o clima os olhos do homem continuavam acampados em mim. Haja paciência! O tipo não vê que a carruagem está repleta de adolescentes bexigosos. Porque não os encara ao estilo Bambi?
Fiquei tentado a levantar-me quando percebi que o velhote até podia ser o meu pai. Se, assim fosse, eu gostaria que alguém lhe tivesse cedido o lugar. Cruzei e descruzei as pernas com a ideia de que, possivelmente, mesmo que remotamente, poderia estar a ser um sacana – ele podia ser o meu pai!
Ele podia ser o meu…, no segundo momento em que este pensamento me ocorreu tive a epifania que resolveu os problemas morais que estava a sentir; a constatação de que em situação semelhante, o mais certo, era o meu pai não ter alguém a ceder-lhe o lugar porque existirá sempre um filho-da-puta como eu. Fiquei com o espírito sossegado, encerrei as pálpebras para apreciar devidamente a Icarus Dream Suite Op. 4 de Yngwie Malmsteen que começou a invadir-me os ouvidos.
https://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2012/03/horario_comboios.jpg336800porta VIIIhttps://portaviii.barcelos.info/blog/wp-content/uploads/2019/01/logo-portaviii.pngporta VIII2012-04-24 16:51:572020-11-19 15:48:15vazio? eis a questão!