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fui ao cinema a uma quarta-feira

Fui ao cinema a uma quarta-feira. Não me recordo do que vi. Apenas registei um pormenor: uma pessoa do sexo masculino sensualmente educada, actualmente sem rosto, segurou a porta para eu passar – urinei sozinho. Essa pessoa não estava à minha espera para me reabrir a porta; com a ponta de dois dedos puxei o puxador, abri a porta. Não me recordo, também, em que shopping ocorreu; mas foi na era em que os WC tinham portas. Agora os shoppings mais modernos resolveram a questão da existência das portas à entrada dos WC; estas pura e simplesmente foram suprimidas sem brilho e sem glória. Essa coisa – a porta – é o adereço ridiculamente menos higiénico.

Enquanto retorço todas as minhas curvas ao melhor estilo de contorcionista de circo para não molhar com qualquer pinga marota de urina, ou como seria falado no Discovery Channel, com o líquido segregado pela bexiga, o meu calçado, porque alguém apelidado academicamente de criativo reconstruiu algo a que se atreveu chamar de urinol, mas que servirá, certamente, para muita coisa, excepto para se mijar à vontade, é como afirmar que uma pizza sem queijo é pizza, e sem qualquer ideia de desculpa na mente o urinol ideal tem de abraçar a urina imperturbável, isentando-me de grande ginástica, só me faltava agora até o urinar ser entendido como queimador de calorias, já imagino doentiamente uma tabela que exemplifique a relação entre tipos de actividades e consumo energético, felizmente ainda temos um Phillipe Starck que sabe projectar casas de banho onde o urinar é transformado em acto zen. Raramente me apercebo, enquanto executo alguma acrobacia, de qualquer pessoa do sexo masculino a lavar as mãos após o manejo do falo e por isso quem tiver coragem e estômago imagine, nem que seja por parcos segundos, a vastidão cósmica de bactérias, nojeira pestilenta que essas portas comportam. Eu tive a ousadia, talvez macerada por duas belgas 50dl que me obrigaram precocemente a recorrer a um WC, de cismar em dada altura com a palavra fétida elevada à quinta potência e ao colocar a mão numa dessas portas paralisei de imediato; só um olhar espantosamente vítreo de uma pessoa vítima talvez, pela forma apalhaçada como saltitava ao meu lado (eu bloqueava a entrada para o WC), de uma violenta noctúria diurna me quebrou o transe.

Em algumas das linhas acima escrevi pessoa do sexo masculino não por distracção, mas sim com um propósito. Esse adjectivo serve para distinguir dentro do masculino os homens e os outros. Não basta uma pessoa ser do sexo masculino para ser homem; mas para ser homem homem é, pois com toda a naturalidade, obrigatório pertencer ao sexo masculino. Porque agora é cientificamente correcto afirmar que a sexualidade humana já não se esgota na perfeita, secular, milenar e considerada, até bem pouco tempo, imutável dualidade dois sexos; quando até os cromossomas sexuais compostos por XY nas pessoas do sexo masculino e por XX nas mulheres, o famoso 23º par, levam com uma ruptura epistemológica em cima que faria corar Bachelard, pois além do sexo masculino e feminino há gente pretensiosa que, abalando o bom senso de qualquer bonus pater familias, se decidiu, violando o cariótipo humano, colocar em situações de, digamos, intersexo (gente indefinida, indecisa que tem particularidades masculinas e femininas, dois em um); quando esta gente, tenho de dizer com relutância, com características insectóides, com mais afinidades ao planeta Lepidopterra do que à minha amada Terra, só posso concluir que esta espécie humana monóica só veio dar razão à insanidade de Walter Sparrow pela complexidade assustadora do 23º par, do número 23. Há alguma razão científica para que seja o 23º par a definir as características sexuais? Não houve na altura da representação do cariograma alguém que tenha lutado contra o 23º par? Já todos sabemos o quanto horrendo este número pode ser e mesmo, assim, os cientistas betinhos consentiram que ele diabolicamente e a seu belo prazer defina o sexo da espécie humana? Uns tolos. Onde estava a pró-atividade dos cientistas? – certamente escondida. Não havia alguém devidamente informado da chocante relação com a Lei dos Cinco, pois 2+3=5 – resumindo um caos.

as extraordinárias aventuras de dog mendonça e pizzaboy – apocalipse

Filipe Melo (texto), Juan Cavia (desenhos) oferecem uma nova aventura de Dog Mendonça e Pizzaboy.
Agora deixaram de ser umas incríveis aventuras e passaram a ser extraordinárias.

E com isto está tudo dito. O primeiro volume é incrível. O segundo é extraordinário.

Para descobrirem a diferença, comprem e leiam: não vão ficar desapontados.

dia dos namorados vs dia dos casados

Hoje é o Dia dos Namorados ou Dia de São Valentim. É uma data especial e comemorativa na qual se celebra a união amorosa entre casais sendo comum a troca de cartões e presentes com simbolismo de mesmo intuito, tais como as tradicionais caixas de bombons. No Brasil, a data é comemorada no dia 12 de Junho. Em Portugal também acontecia o mesmo até há poucos anos, mas actualmente é mais comum a data ser celebrada em 14 de Fevereiro.

via wikipedia

Um gajo casado não é namorado.
Já passou pela fase do ovo (aka namorado), pela fase da larva (aka noivado); encontra-se actualmente na fase pupa (aka casado) e anseia perpetuadamente chegar à etapa imago (aka fase adulta).

É complicado explicar a uma qualquer mulher… casada! o natural esquecimento de uma prenda.

Tentei hoje uma breve explicação e sinto no âmago mais meu que o resultado não foi o mais positivo. Tive em último recurso de recordar à minha mulher (aka amante) que no sábado passado desfizeram-me uma barba de dois meses – ah! ah!, não pode existir melhor prenda, mesmo com efeitos retroactivos? Certo?

E tenho tudo a meu favor (acho eu com quase toda a certeza):

elogio sempre a comida que ela faz
e quando é preciso eu cozinho. encomendo uma pizza familiar e resolvo a questão qualquer que ela seja
levanto a tampa da sanita
e baixo a tampa da sanita
Além do mais sendo eu gajo casado 364 dias por ano como seria possível, academicamente filosofando, me transformar em namorado logo pelas 00h00?
Existe algum botão escondido? Uma palavra chave?