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o poema

O poema
cresceu com rima
e ritmo.
As palavras fizeram-se
abraço,
rodopio,
dança.
Sem sentido
consentido
o poeta e o leitor
são união,
compreensão.
Eu e tu
sabemos que
a força das palavras
está tanto no fim da escrita
como no começo da leitura.

o periférico de william gibson

Grande aposta da Saída de Emergência. Autor de culto, numa obra memorável.

A história é um verdadeiro puzzle que força o leitor a juntar as peças. Com uns primeiros capítulos a obrigar a uma segunda leitura (confusos), depois de perceber a mecânica e tomar uns apontamentos paralelos foi sempre a abrir.

O Perifério é um livro complexo: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” [1]


[1] O primeiro anúncio da Coca-Cola em Portugal, mais de 40 anos após o seu lançamento nos EUA, foi criado pelo poeta Fernando Pessoa, mas acabou por ficar apenas no papel por razões políticas.


Tradução de Luís Santos

reinaldo ferreira

Poeta natural de Barcelona, filho do famoso jornalista com o mesmo nome, que nos anos 20 se celebrizou por assinar as suas peças sob o pseudónimo «Repórter X». Teve uma vida breve e pouco bafejada pela sorte. Iniciou os estudos secundários em Espanha, tendo-os concluído já em Moçambique, onde se fixou. Colaborou em algumas publicações de Maputo (a então cidade de Lourenço Marques) e da Beira: Capricórnio, Itinerário, Paralelo 20, etc. A sua poesia só ficou conhecida aquando da publicação póstuma dos seus Poemas (1960). Uma segunda edição, de 1966, vinha acompanhada de um prefácio de José Régio, que, tal como Vitorino Nemésio, lhe teceu largos elogios. A sua poesia pode ser enquadrada na tendência presencista, encontrando-se também elementos que a ligam ao simbolismo e ao decadentismo. Se nos seus poemas imperam a ironia, o niilismo e o absurdo, existe por outro lado um forte pendor humanista, visível na crítica a certos mitos.

Poeta descoberto em 1999.

antónio gedeão, poesias completas

Em 1956 António Gedeão publica no livro Movimento Perpétuo o seu poema mais conhecido: “Pedra filosofal“.

Em 1967, no livro Linhas de Força está incluído o poema intitulado “Poema da morte aparente” que Jorge de Sena no Post Scriptum de 1968, à edição do livro António Gedeão – Poesias Completas [1956-1967] considera ser um “dos melhores poemas do volume” (pág. XLVI).

Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora,
e os homens pasmavam de isso ainda acontecer no tempo deles,

parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.

A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
tão brancos como se as dentaduras fossem novas.

Ontem, na sequência de uma conversa, iniciei um passeio por estes poemas lidos pela primeira vez em 1985.

InformaçõesAntónio Gedeão – Poesias Completas [1956-1967]
Editora: Livraria Sá da Costa Editora. Lisboa
8.ª edição acrescida com 4 Poemas da Gaveta
Prefácio: “A poesia de António Gedeão: esboço de análise objectiva” por Jorge de Sena
9.ª edição: 1983

dissertação escusada sobre a solidão das árvores

É com enorme satisfação que me encontro com um novo livro de José Ilídio Torres nas mãos. Já leio a sua poesia desde os 17, ainda aluno na Escola Secundária de Barcelos, mas é com 18 anos, em Coimbra, que mergulho de cabeça na sua escrita. Como pessoa pouco me surpreende, como poeta… ufa… as letras são outras. Ele escreve aquilo que eu adoro ler. Claro que não escreve para mim, não ouso pensar isso, um pouco talvez, mas sinto que ao ler as suas palavras ele pensou em mim porque fala do que eu sinto, do que me vai na alma, como um espelho que reflecte o meu real ou… o que imagino ser real, ou talvez nem isso.

José Ilídio Torres teve a ousadia de em 1987/1988(?) fazer uma fogueira com centenas de poemas. Foi um dia de alegria para Coimbra que viu a poesia livre, como deve ser toda a poesia, a esvoaçar em forma de cinza. Acho que esse dia, e nos seguintes, na Real República dos Pyn-Guyns só se falava da loucura do poeta de Barcelos. Insultei-o e principalmente à vizinha do lado. A culpa na vida de um poeta é sempre da vizinha que se esfrega a nós e se ela não existe inventa-se uma – haja poeta! Desse tempo, ainda tenho comigo, uma folha A4 com um poema escrito por um jovem de 20 anos.

Hoje temos um poeta, alguns anos mais velho, mas capaz de agrafar a qualquer folha A4 uma poesia jovem, fresca, cruel… sim, até visceral (mas sempre a pulsar, porque José Ilídio Torres manipula com mestria as letras de A a Z e desta forma a sua poesia celebra-se a si mesmo.)

Dissertação escusada sobre a solidão das árvores, o seu novo livro, vem embrulhado de “isto e aquilo“, de tudo e de nada. O poeta atreve-se a afirmar que trata o poema por tu. Não me importo que o poema seja um seu “velho amigo“, desde que eu seja um seu velho leitor. Ontem tinha apenas uma folha, hoje tenho imensas; ainda o posso insultar, mas apenas para que escreva mais e mais.

Respondo por ti se não te importas:” – obrigado José Ilídio Torres.