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notícias frescas

O harpia do meu vizinho, que mora mesmo ao meu lado, na Rua do Perpétuo Socorro, desde que remodelou a casa com novos revestimentos e adquiriu, até, um novo carrinho acha-se o maior do mundo. O estúpido.

Ontem ele teve a ousadia de me oferecer boleia no seu novo carrinho. Não confiando na sua estabilidade, uma das rodas tinha um comportamento muito periclitante, recusei.

Eu, e não por preguiça, ainda habito a mesma casinha. É pequena; não tem uma coisa a imitar uma clarabóia, como a do meu vizinho, mas tem tudo o que preciso para eu adormecer. E não é afinal isso que interessa? Para quê luxos estéticos. E ao contrário do harpia do meu vizinho que dorme sempre embrulhado em merdas antigas eu adormeço sempre aconchegado por notícias fresquinhas. Hoje sou embalado pelo último número do Jornal de Letras e do Expresso, este é sempre um dos melhores lençóis.

thoughts

A group of people crossed his path, he thought: ‘I don’t like them.’
A man crossed his path, he thought: ‘I don’t like him.’
A woman crossed his path, he thought: ‘I don’t like her.’
He saw himself reflected in a glass showcase. He thought ‘I don’t like the hate I see in me.’

estranhos acontecimentos

Ontem nevou em Barcelos e os pinguins saíram à rua.
Mais uma vez se comprova que Barcelos é uma cidade que não foge, afinal está geograficamente fixa, à existência de realidades alternativas.

cheio de tosse

Ele caminhava com uma caixa cheia de tosse que abria aqui e ali. Ele poderia ser muitas coisas, mas não era uma pessoa egoísta. No final do dia, ele olhava para a caixa vazia com orgulho e adormecia sempre feliz, embalado pela tosse que na rua era cantada em harmonia.