Artigos

crise de gota

Sofri no passado domingo a primeira crise de gota – porra!

Podia ser uma crise de amnésica, uma crise de sorte, uma crise ambiental, um crise cubana, em última recurso uma crise de estupidez, mas não, não teve de ser uma crise de gota. Uma cena que não é motivo de orgulho para ninguém. Acordar com dores enormes no dedão do pé direito, assistir ao seu crescimento, à sua deformação foi inesquecível.

Na unidade de saúde a que me desloquei para perceber o que se passava tive de passar por uma máquina que detecta, quase automaticamente, a temperatura corporal – colocava a testa, a mão direita, a mão esquerda, as palmas, mas apenas passados 3 minutos é que a máquina debitou “35.3 graus” e lançou jactos de vapor desinfectante e passei à fase seguinte: sala de espera.

Estamos, realmente, num mundo em que a alienação é a ordem do dia. Dentro daquela máquina, senti-me pela primeira vez, alienado – vítima inocente ou não de uma maluquice mundial.

mente sã em corpo coiso

Aqui está o equipamento, junto a algumas estantes, que uso para colocar o meu corpo como deve ser. O problema é que o meu corpo tem os seus desejos e nunca se submeteu à minha vontade.

Mas todos os dias, durante 30 minutos, tento convencê-lo a mudar de ideias – a ver vamos.

novas máscaras de uso social

Devido a uma potencial escassez de máscaras tipo respiradores ou máscaras cirúrgicas a DGS (Direcção Geral de Saúde) aconselha a utilização de máscaras não-cirúrgicas, comunitárias ou de uso social desde que certificadas e revela dois exemplos concretos.

cenas e cenas

Não tenho escrito quase nada desde que me vi enfiado em casa 6 dias por semana; um dos dias da semana é para me deslocar ao trabalho sem ser em teletrabalho, apesar de esta rotina ter sido alterada temporariamente – fui mais vezes esta semana ao meu local de trabalho.

A rotina caseira está a dar cabo de mim. Nem o meu comportamento obsessivo está a ajudar. O vírus além colocar potencialmente em causa a minha saúde, tem agravado exponencialmente a minha sanidade, pois sei que apesar de todo o meu cuidado para com os meus entes queridos a ameaça anda por aí invisível – o medo por eles é superior ao medo por mim.

Sou uma bomba relógio paranóica que irá explodir a qualquer momento.

níveis de stress

Se o seu stress não respeita as normas ISO 10551 significa que está perante uma sensação térmica não autorizada e por isso deve dirigir-se de imediato ao Centro de Saúde mais próximo para ficar em quarentena ambiental. Após 48 horas será efectuada uma avaliação aos níveis de desconforto tendo em conta as características pessoais e o vestuário utilizado. Se os biomarcadores testados pelo corpo forem negativos para a deformação em V a quarentena será levantada.

fujam, vem aí a saúde

Após entrar no parque da cidade de Barcelos fui ultrapassado por algumas pessoas que fugiam esbaforidas, suadas, coradas. Uma chocou contra mim. Aproveitei e perguntei-lhe a razão daquela correria. ‘Ora essa, é por causa da Saúde,’ respondeu com um ar de surpresa, tresmalhado com ofensa. Olhei por cima dos ombro e vislumbrei mais pessoas a fugirem. Não vi nada parecido com a Saúde. Não obstante, com algum receio iniciei a fuga.

a transformação

Hoje pela madrugada dentro estava com os pés completamente gelados e o resto do corpo a tremer que nem decrépitas bandeiras de Portugal penduradas nas varandas ao sabor do vento. Quando o frio começou a subir pelas canelas e a alastrar pelos membros inferiores temi pela saúde do meu pénis e dos meus exuberantes testículos.
Estaria a transformar-me em vampiro? Claro que no clássico vampiro que pede licença para entrar em casa e não aquele que come vegetais ou anda à luz do dia. Um dos motivos que me leva a adorar os vampiros é esta refinada educação. O vosso deus, por exemplo, está em todo o lado e nem pediu permissão para estar neste preciso momento a ler o que estou a escrever por cima dos meus ombros.
Esta ideia romântica de transformação foi afastada pela resposta da minha mais-que-tudo, após ter bocejado um arrepiado “Estou cheio de frio e a tremer. O que se passa?”. “Olha que eu estou cheia de calor.” foram as suas palavras jocosamente apunhaladas nos meus ouvidos.

Assustei-me.

Estaria a minha energia vital a ser sugada? Passados estes anos todos seria a minha companheira de cama uma real Sil? Uma parasita cibernética do planeta “estou-realmente-lixado-da-cabeça“?
“Agora é que não me safo”, sussurrei para a minha almofada.
Senti uma mão a penetrar-me nas costas, a subir até ao pescoço e a dizer “Estás cheio de febre.” A mão e corpo saiu da cama e foi para a cozinha preparar qualquer poção diabólica ao melhor estilo de chá de Santo Daime. Soube isto quando me foi oferecido um copo de líquido branco e efervescente com um irritado “toma isto e vê se me deixas dormir”. Bebi calado e bem caladinho. Não me lembro de adormecer.

Acordei. A fêmea alfa já não estava na cama. Teria sido tudo um pesadelo?