estamos a falar de coisas diferentes

— Queres a mãe morta? Mas que raio de filho és tu?
— Eu gosto da nossa mãe tanto como tu. Que merda de acusação é essa?
— Não disseste que ela está a sofrer muito?
— Sim disse.
— Não disseste que não há ninguém para tomar conta dela?
— Sim disse.
— Não disseste que a morte acabaria com o seu sofrimento?
— Sim disse.
— E então, sacana da merda, ainda dizes que não queres a mãe morta.
— Estamos a falar de coisas diferentes. Eu não disse que desejo a sua morte; apenas que estava melhor morta.


Uma história com exactamente 101 palavras.


Fascinado pela frase “estamos a falar de coisas diferentes” do conto “Um Conto Popular Para a Minha Geração: Na Pré-História do Capitalismo Tardio” de Haruki Murakami constante no livro “A Rapariga que Inventou Um Sonho”, tentei criar um texto sem sentido com apenas 101 palavras. Aqui está ele.

retribuições

Todos os dias a minha filha vem dar-me beijos de boa-noite. Dá um beijo e eu retribuo. Dá outro e eu retribuo. Outro e eu retribuo. Ainda outro e eu retribuo. Pimba mais um e eu retribuo. Termina encostando o seu rosto ao meu; e enquanto se afasta coloca os dedos no meu cabelo e despenteia-o. Eu tremo de exasperação, fecho os punhos e digo-lhe sempre “não gosto que faças isso”. Mas ela faz-lo continuamente.

Ontem a mesma rotina exceptuando um pormenor. Quando colocou os dedos no meu cabelo para o escangalhar ele não se mexeu. Olhou para mim espantada e disse zangada:
— Não teve piada. Por que colocas-te laca no cabelo?
— Porque a tua expressão valeu mil beijos.
— Não tornes a fazer isso pai.
— Okay.

avenue 5

Não sei porque gosto da série Avenue 5, mas a verdade é que acho o humor seco no ponto.

Hugh Laurie está excelente como Capitão Ryan Clark, bem como as restantes personagens que o orbitam.

Hilariante sátira social!

questões: peso…

Shoe, criação de Jeff MacNelly, continua a divertir. Tira por Gary Brookins e Susie MacNelly.

03. referências culturais em sr. mercedes

Pode ser ou é outra referência à cultura popular no livro Mr. Mercedes de Stephen King.

— Rapazinho — diz Hodges.
O miúdo olha para ele, sem dizer nada.
Hodges ergue a mão e aponta para ele.
— Acabei de fazer uma coisa boa por ti. Antes de o Sol de pôr esta tarde, quero que retribuas o favor a alguém.

página 85

Referência ao filme “Favores em Cadeia” com Kevin Spacey, Haley Joel Osment e Helen Hunt, realizado por Mimi Leder, baseado no livro homónimo de Catherine Ryan Hyde.

Thorsen: I thanked him and there were some very specific orifices in which I was told to shove my thanks. He told me, “Just pay it forward.” Three big favors for three other people. That’s it.
Chris: So it’s like a pass-it-on thing, then. Wait a minute. You and this lowlife are in this chain of do-gooders, some kind of Mother Theresa conga line? That’s a little New-Agey for you, isn’t it? Sort of Tibetan? What, are you in a cult?

do filme Favores em Cadeia (Pay It Forward)

o que menos me preocupou foi a cor do sangue dela

O que menos me preocupou foi a cor do sangue dela: vermelho como todos. O problema que se me colocava era como retirar o corpo do apartamento sem ninguém descobrir. Não sendo canibal, comê-la estava fora de questão. A solução estava em fazê-la desaparecer sem sair do apartamento. Através de ácidos na banheira – vulgar. Sentei-me e olhei para o peixe vermelho que dentro da bola de vidro gozava comigo. E nesta altura a solução surgiu com mais naturalidade do que uma erecção. Um aquário de 150cm é uma decoração sempre elegante e ainda mais se estiver habitado por certos peixes.


Uma história com exactamente 101 palavras.

medida preventiva

Hoje isto do Coronavírus assustou-me realmente. E eu que fiz um esforço para não entrar em pânico.
Acabo de vir do Shopping China nas Torgas onde comprei uma máscara para me proteger.

a rainha ginga de josé eduardo agualusa

O novo romance de José Eduardo Agualusa, A Rainha Ginga, conta a vida fantástica de Dona Ana de Sousa, a Rainha Ginga (1583-1663), cujo título real em quimbundo, “Ngola”, deu origem ao nome português para aquela região de África.
É a história de uma relação de amor e de combate permanente entre Angola e Portugal, narrada por um padre pernambucano que atravessou o mar e recorda personagens maravilhosos e esquecidos da nossa história – tendo como elemento central a Rainha Ginga e o seu significado cultural, religioso, étnico e sexual para o mundo de hoje.  

Quetzal Editores

A Rainha Ginga é o ponte de partida e o ponto de chegada de todas histórias narradas por Francisco José da Santa Cruz, um padre Pernambucano. Ginga deslumbra com a sua postura e nesse seu andar contagia pessoas fascinantes que se cruzam e entrecruzam entre Portugal-Brasil-Angola.

Nos dias antigos, acrescentou, os africanos olhavam para o mar e o que viam era o fim. O mar era um parede, não uma estrada. Agora, os africanos olham para o mar e veem um trilho aberto aos portugueses, mas interdito para eles. No futuro, assegurou-me, aquele será um mar africano. O caminho a partir do qual os africanos inventarão o mundo

página 16

A Rainha Ginga é muito mais do que o coração desta obra é todo um universo:

O Paraíso deixara de ser para mim algo abstrato e remoto. O Inferno também. O Paraíso era ela e o ar que ela respirava, e o Inferno a ausência dela. A toda a volta só havia demónios.

página 68

Outro fantástico e muito sólido livro de José Eduardo Agualusa. A Rainha Ginga oferece uma leitura fácil e muito agradável.

dc’s legends of tomorrow

Ontem decidi em má hora ver na Netflix o primeiro episódio da série DC’s Legends of Tomorrow.

Não aguentei ver mais do que 10 minutos. Ou ando muito exigente, o que não é caso, ou a série causou-me alergia. Apesar de algumas vezes gostar de ver lixo, quando o entendo como arte conceptual.

Valeu-me estar a beber conhaque. Combati um possível ataque de desânimo ao terceiro gole.

watchmen (vol. 1): quem guarda os guardiões de alan moore e dave gibbons

Comecei a reler Watchmen; obra magistral de banda desenhada, lida pela primeira vez em 1989 numa edição brasileira.

O encanto continua vivo.

Tradução de Paulo Furtado