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haja ânimo

Todos os dias eles subiam a mesma escada; encontravam, logo no topo, assim de rajada, enclausurado na vitrina de sempre, o mesmo cartaz com os dizeres “Haja Ânimo”.

Todos os dias, que eram tudo menos santos dias, contavam mentalmente, com o coração cheio de desânimo, os degraus: e um, e dois, e três, e agora quatro, e cinco, e já está quase, e seis, e sete, e oito, e noveeeeee e raios partam tudo… ufa… dez. E logo no patamar o cartaz que já foi de um amarelo vivo, agora descolorado pela passagem dos anos, sorria desdenhosamente para eles a publicitar um já muito ultrapassado “curso prático contra o desânimo, o ruído, o medo e a solidão”. Sentiam, quando o deixavam para trás, o sorriso espetado nas costas – a gozar com eles.

Eles que já foram crianças cheias de sonhos, adolescentes com hormonas saltitantes, adultos com esperanças, velhos com saudades. Eles que passaram por todas as pungentes quatro fases de um ciclo de vida, mas ao contrário da borboleta a última fase não é de um lindo renascimento, vêm-se agora numa nova, assustadora e inesperada quinta fase: a fase zombie.

Eles de olhos mortiços, corpos amortalhados, de andar morrediço são os novos zombies; são a corporalização do desalento, do dilaceramento individual; são autómatos de carne e sangue que obedecem sem reflexão a vontades incoerentes. Eles sabem-se bobis que recebem diariamente um osso descarnado em troca do nada.

O que lhes resta? Certamente a revolta, porque a vida nunca são dois dias.

odeio sudoku! (excerto)

Ando sem apetite. Com desejos de experimentar coisas novas. Não me recordo, nestes últimos anos, de ter esta necessidade, assim, tão premente.
São 22h31 e, enquanto passeio pela Rua de São Bento que me leva ao interior do Centro Comercial do Terço, percorro com os olhos para a direita, para a esquerda – nada desperta o meu interesse. As mesmas coisas. Os mesmos potenciais sabores.

Terminei a minha história sobre vampiros para enviar para a Revista Digital miNatura 133.

O tema anterior, da revista 132, foi Área 51.