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lol, camouflage 6.1 – by books

lol in typical Next Thursday fashion has navigated through books never before navigated. He has left the three-dimensional space and entered the multidimensional space. He is looking for the perfect book for his hideaway. So, he jumps from book to book like a grasshopper – free of responsibilities, of deadlines to meet. His current motto could almost be “Pack your knapsack and go.” After so much jumping and running through amazing, minimalist and tragic books, of dense, light and dour writing, he opts, for his lair, for an illustrated book filled with people sitting on roofs, peering from windows and doors, descending and ascending stairs, dressed in blue, green, brown, yellow or striped, traveling on a train, ship or submarine; with strange and normal objects; with real bears and teddy bears; with fish and dinosaurs, horses, cows and even robots. In that crowd, that mosaic of confusion, lol realizes, finally, that he will be camouflaged. Then we hear him say ‘let me through’ while bypassing a green tank driven by a yellow fish; ‘do not push’ as he crosses paths with a blue group of soldiers; ‘do not fall’ as he faces Humpty Dumpty, who is on top of a wall made of books. Then we see him getting more than annoyed when he observes that the house made of cards is occupied by an astronaut, a skier, a conductor, a matrioska. lol throws his arms up high and grumbles loudly ‘SERIOUSLY! EVEN A MATRIOSKA?’

[… an excerpt …]

brincadeiras

Primeira imagem:
A trapped woman has been found in a painting by the French artist Edgar Degas. Infrared and conventional X-ray photography revealed the ghostly image. The Ghostbusters are called in.

Segunda imagem:
Origins of the World promises to be a challenging, mobile-friendly real-time strategy game for all platforms.

origins of the world

origins of the world

a porta dos infernos

A Porta dos Infernos por Laurent Gaudé (edição pela Porto Editora) foi lido no decorrer do dia de ontem. É um daqueles livros que tinha para ler e que era preterido em relação a outros.

Já sabia antes de o começar a ler que ia gostar dele, não sabia que seria uma leitura vertiginosa. A Porta dos Infernos é um livro sobre a morte, o desespero, o esquecimento, a fragilidade dos sentimentos, mas acima de tudo sobre a importância da vida. Não me deixou indiferente; é um livro muito bem escrito e profundamente perturbador.

O Pintor de Batalhas por Arturo Pérez-Reverte foi outros dos livros que me conseguiu abalar – no bom sentido. Contudo A Porta dos Infernos é uma leitura mais sufocante.

E estas palavras ditas por Schmidt no filme “About Schmidt” podem quase explicar um pouco do que foi lido.

Relatively soon, I will die. Maybe in 20 years, maybe tomorrow, it doesn’t matter. Once I am dead and everyone who knew me dies too, it will be as though I never existed. What difference has my life made to anyone. None that I can think of. None at all.

About Schmidt

um pedido nada usual (excerto)

A fachada da companhia de multi-serviços 1.2rc2 é uma autêntica manta de retalhos. Reflexo da sobrevivência a três 1/2 terramotos, a dois tufões, a um ataque de harpias e, talvez a pior ocorrência, ter sido vítima inocente, na esquina octogonal lateral direita, logo a seguir à actualização 1.b, da mordida de Cerberus. Será, certamente devido a esses ataques, o motivo para a fachada não ter uma versão definitiva e actualizada.

É um edifício que aparenta estar a cair a qualquer momento, mas que é mais seguro do que um pudim molotov. E não deixa ser uma sublime visão arquitectónica para uns, ou uma aberração assustadora para outros. Acrescente-se o facto de ter, pelo que é dado a conhecer, duas portas de entrada e uma delas, introduzida na actualização rc1.b, estar colocada a trinta e cinco metros do chão. Podem dizer que a porta superior é apenas de saída, mas todos nós sabemos que primeiro as portas servem para entrar e só depois para sair.

Foi, pois, através da porta do rés-do-chão, na sua versão v1.0, que um homem de idade indecifrável entrou no edifício e se dirigiu com passo determinado ao balcão F1.
‘Quero encomendar um suicídio.’


informações: apenas um extracto da história

venda de sangue

Qual a minha surpresa, mas não total, era mais que previsto, ao ver em Barcelos a primeira loja franchisada de compra de sangue e de órgãos.
Como estava a ser sangrado pelo Estado mais que “social“, pelos bancos e outros parasitas, sem a aplicação de um qualquer hirudo medicinalis ao melhor estilo medieval, até que perdi qualquer vontade de viver, vender um pulmão e um rim para liquidar a totalidade dos meus débitos foi uma decisão fácil de tomar.

Vi-me passados 30 dias com uma conta do hospital impossível de suportar. Hoje venderei o meu coração para ser cremado e atirado aos quatro ventos.

’tá-se bem!

— Já estás a pé? — perguntou a minha mulher com a surpresa estampada em cada palavra.
— Claro, vou hoje fazer as análises.
— Olha que parece com essa pressa toda que estás atrasado para uma festa.
— A minha bexiga cheia nem te responde… minha menina.
— E tens certeza que esse laboratório já está aberto a esta hora? — a fêmea alfa estava muito inquisitiva — Podes sempre ir àquele laboratório junto à igreja de Santo António.
— Está aberto. E se por qualquer motivo tipo terramoto, peste bubónica, estiver fechado, podes ter a certeza que verto o meu litro e meio de urina logo ali no primeiro pilar à bobi.

Fora de casa acelerei o passo e em menos de 2 minutos estava a empurrar a porta, a apresentar a requisição, a receber de oferta um contentor plástico de urina, a dirigir-me à velocidade da luz para uma casa de banho ultra equipada. Aí em saltinhos cada vez menos espaçados, abri a braguilha, coloquei o pénis em posição, rasguei o plástico protector, rodei a tampa do contentor, e ufaaaaaaaa, finalmente, apontei a mangueira e disparei com imensa satisfação o líquido segregado pelos rins; quando o contentor de plástico estava pelas caniças apertei a mangueira para suspender a expulsão de urina e apontei para o urinol o restante litro e trinta decilitros…

sangue

a extracção de sangue

e lembrei-me, enquanto entregava o contentor de plástico a 37% graus, que as mulheres têm um controlo perfeito, mesmo militar sobre a bexiga: urinam, param, retocam a maquilhagem, reiniciam, conversam de futebol, param, vão tomar um chã, fazem sudoku, reiniciam ad eternum

Seguiu-se a extracção de sangue para as análises. Aí fiz birra porque a técnica não me deixou gritar para assustar o pessoal que estava na sala de espera. Nem um gemidinho à rato pude lançar.

Triste sina a minha, nunca me deixam fazer o que quero.

o raio dos maios

A minha apavorante vizinha do décimo quarto andar não se cansa de depositar surpresas encostadas à porta blindada de entrada para o meu apartamento. São donuts, pães árabes, pães ázimos, pães franceses, pães integrais, decorados ora com uma vela, um palito colorido, um stick luminoso, pêssegos paraguaios, marmelos, mas também deixa artigos não comestíveis, como um fálico candeeiro lâmpada de lava vermelha, um broche em prata e outras coisas de que já não tenho memória. Não sei o que se passa naquela cabeça. Não consigo compreender, e tenho dois dedos de testa, o que ela quer conseguir com aquelas oferendas.

Já lhe disse com a menor simpatia que tenho que deve mudar de atitude, que é uma exagerada, que o que faz não tem qualquer sentido, que se deseja ter sexo comigo isso nunca vai acontecer, não porque seja feia (também não é bonita, até tem um corpo de pedir por mais), apenas odeio saber que tenho uma amante no prédio onde habito obcecadamente possessiva.

– A sua sorte é eu ainda ser boa pessoa e isto ser saboroso – respondi-lhe, na sexta-feira passada, após dar uma última trincadela na oblação, um donut caramelizado. Viro-lhe as costas e subo em passo de corrida pelo elevador até ao meu reduto.

Passados que foram dois dias do último donut olho para o espanto dos espantos; completamente apalermado fiquei a encarar um pito amarelo, de laço vermelho ao pescoço, num cesto de vime repleto de ovos de chocolate. Pego no cartão preso à asa e leio “Big, ofereço-lhe esse inocente pito como prova do meu apreço. A sua vizinha 14C“. Aquela prenda tinha a mensagem mais clara de todas. Senti que tinha de terminar com os abusos. As dádivas atingiram outro patamar pela ausência de subtileza; de inocente não tinha nada e o pito, ou mais correctamente o frango, da oferecida, que deve ser tudo menos cândido, foi-me oferecido em vermelho.

Mal sabia que o pior estava para vir. Hoje, 30 de Abril, lá descobri refastelado no chão um cesto de verga castanho com imensas maias ou maios, enfim ramos de giestas amarelas. Fiquei assustado. Odeio rituais, até os pagãos. Iniciei um laborioso processo mental, só como eu sou capaz, e concluí que o ritual tem como objectivo último impedir a entrada do Burro, do Maio ou do Carrapato nas casas; afastar as entidades maléficas, os demónios. Chegado a esta ilação uma paz interior colou-se ao corpo. Finalmente a 14C ia deixar-me em paz. Coloco os maios e desvio a vizinha carrapata da minha porta – pensei. Grande burra acabou de dar um tiro no pé; deu, mas foi, um tiro nos dois pés e caiu de frente. O susto já era uma miragem e comecei a gargalhar todo satisfeito quando o tiimmm do elevador antecipando a abertura das portas interrompeu a quarta risada e vi lá dentro a 14C vestida de branco, coroada com flores, descalça, diáfana, a exalar fertilidade. As portas fecharam-se e o elevador desceu. Se eu fosse o Reed Richards os queixos tinham-me caído literalmente ao chão.

Que se fodessem os maios, que não eram precisos. O diabo já estava dentro de casa, dentro de mim. E o demónio em mim entrou em parafuso. Tresloucado desci, imagine-se, pelas escadas, abalroei a porta do 14C para a encontrar sentada, sensual, num trono de flores. Lancei-me a ela de arpão em riste, rasguei-lhe a parca cobertura; de costas para mim e com as mãos apoiadas nos braços da poltrona florida enfiei numa líquida vulva um sequioso pénis com tanta facilidade que quase perdi o equilíbrio não me tivesse agarrado a dois seios tesos, ausentes de artificialismos. Com a coluna a arquear a cada investida minha senti que estava a gostar da viagem de tobogã; e quando comecei a despejar 117 milhões de demónios, contagem do meu último espermograma, ri-me em deliciosos sobressaltos da imagem mental que me surgiu, assim do nada: um pito amarelo, de laço vermelho a afogar-se num taça cheia de manteiga.

Abandonei-a sufocada por suspiros, sabendo que os meus demónios irão morrer pacificamente em suave agonia em 24 horas – maios para quê.

Finalmente exorcizei-a.

o vosso exorcista: BigPole

em busca da realidade divina

Só esta semana é que terminei a leitura do livro “Em Busca da Realidade Divina” de Lothar Schäfer (edições Ésquilo, 2003), que comprei durante no Ciclo de Conferências e Religião: perspectivas.

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dedicatória

É uma livro fascinante.

lapdance 1.01

Num abrir e fechar de olhos LapDance chegou ao destino. Claro que para quem tem dois dedos de testa, enfim, para qualquer entendedor mediamente inteligente LapDance nunca fechou os olhos; isso seria o convite ao suicídio. É um sujeito doido, até desleixado, mas não kamikaze. O que interessa para a nossa história é o facto de que viajou mais rápido do que uma lesma vítima inocente da toma de viagra.

Desligou a mota no parque reservado aos VIP. Levantou a viseira do capacete, adorava especialmente este momento mágico; enquanto posicionava o descanso admirou-se com os pneus esfarelados, sintoma de boas curvas e ardente velocidade; o crepitar do escape abriu-lhe o apetite para umas castanhas assadas na brasa. Ali de preto iluminado apenas pela luz do candeeiro público auto alimentado sentiu-se um homem capaz de enfrentar sem dificuldade qualquer problema que Nectarina tivesse ou viesse a ter.

Só depois deste inócuo narcisismo é que tirou o capacete, deixando-o a repousar no depósito de gasolina, e observou pasmado e com uma total incompreensão a Bolo-Rei. Olhava como uma vaca para o vazio deixado por um TGV que ora estava ali, ora já não. Os seus olhos presenciavam a ausência de luz onde esta deveria existir. Se estivesse com o capacete alojado na cabeça poderia usar como desculpa a massa anónima de insectos colados à viseira. A verdade é que os enormes tubos de néon que compunham em voltas e reviravoltas as letras da palavra Bolo-Rei estavam completamente às escuras – seria agradável um suave piscar, até uma faísca. O facto da Bolo-Rei ter a forma de um rectângulo de ouro não sossegava LapDance; e a agravar o quadro nem a luz piloto, amarela, que assinalava a campainha das traseiras emitia qualquer luminosidade. Estranho, muito estranho, pensou. Estaria a sonhar? Um calafrio seria algo que não desgostaria LapDance; sempre era a prova de que estava bem acordado, mas o seu fato Alpinestars entre outras funcionalidades mantinha-o a uma temperatura corporal constante.

Cautelosamente aproximou-se da porta. As botas faziam estalar a gravilha; o tubo de escape copiava o som. Sentiu que estaria melhor no sofá a curtir um filme e a comer pipocas. A sua tara por comida era lendária, e qualquer motivo servia de pretexto para provocar todas as suas papilas gustativas.

Empurrou a porta que estava ligeiramente entreaberta. Entrou, e o que sentiu de imediato foi um cheiro que lhe trouxe agradáveis recordações de orgias, o cheiro adocicado de vómito; mas por mais preparado que pudesse estar não estava para aquele cenário.

[em continuação…]

expulsar os demónios

– Pai podes brincar comigo? – perguntou a minha filha mal acabei de abrir a porta de casa.
– Daí a pouco, agora tenho de expulsar uns demónios – respondi, no meu tom mais que sério, deixando-a pensativa. E lá ficou no hall a ruminar. Deve ter sido por causa da palavra “expulsar” que no seu modesto vocabulário, certamente, ainda não tinha um adequado sinónimo.

[… pausa para processamento de informação …]

– MÃE, MÃE… OHHH MÃEEEEEEEEEEEEEEE, tenho medo, o pai disse que há bichos aqui – gritou a soluçar, e correu para a mãe que a deve ter abraçado estupefactamente aborrecida.
– Onde está o teu pai?
– Na casa de banho. E ’tá a gritar!
– Pois está, a gritar “saiam daqui demónios!” – frase dita num tom de voz tão gélido que me arrepiou até os cabelos que não tenho.
– O pai está a brincar. Não é a sério. Olha Margarida vai à cozinha buscar uma colher de pau para também nós brincarmos.
– Uma colher de pau? – questionou a inocente criança. Este pedido da mãe foi ouvido por um pai ligeiramente assustado. Uma névoa de suspeição já entrava na casa de banho por baixo da porta e pelo buraco da fechadura.
– Sim, Margarida, vamos bater com ela na cabeça do palerma do teu pai. Pode ser que com dois chifres ele convença os demónios a deixarem a nossa casa.

Danger, Will Robinson!” – aí estava eu, mais uma vez, numa posição periclitante. Sou vítima de odiar a monotonia e sinto-me, como tal, na obrigação de criar momentos teatrais.