a assassinar um escritor
Uma pequena brincadeira que fiz na sequência de umas fotos publicados por Rhys Hughes no Facebook.
Hoje saliento a imagem deste post.
Uma pequena brincadeira que fiz na sequência de umas fotos publicados por Rhys Hughes no Facebook.
Hoje saliento a imagem deste post.
É com imenso prazer que publico a entrevista realizada a David Soares, no dia seguinte a ter sido premiado na edição deste ano do Amadora BD, com o Prémio Nacional de Banda Desenhada para Melhor Argumento de Autor Português pelo livro «O Pequeno Deus Cego» (uma edição Kingpin Books, desenhado por Pedro Serpa).
O que adoro em todo o seu trabalho, além de uma fantástica imaginação, é a sua capacidade em não nos deixar indiferentes. David Soares é uma referência incontestável na literatura em Portugal – um criador completo. É um autor a descobrir ou a reencontrar.
Não nego a minha grande admiração por David Soares. Possuo todos os seus trabalhos. “Batalha” tenho-a em todas as cores, só me falta comprar a edição da “raposa” e obter “A Conspiração dos Antepassados” com a capa “pessoa”, até tenho impresso em booklet “Um Passeio por Lisboa Triunfante”, e foi, por isso, precisa muita coragem, misturada qb com atrevimento, para lhe colocar algumas perguntas que ele amavelmente acedeu responder.
Agradeço, mais uma vez a David Soares e, pois claro, a todas as editoras que o têm trazido a público.
A entrevista.
1. “(…) É preciso coragem para escrever, e a coragem cresce mais pelo nosso próprio exemplo que pelo exemplo dos outros. É preciso coragem porque escrever é confessar (…)” palavras extraídas do livro “Renascimento” de Brian W. Aldiss. Achas, sinceramente, que um escritor se confessa, não no sentido religioso do termo, ao escrever?
conspiração dos antepassados
Acho que, de uma forma ou de outra, tudo aquilo que se escreve terá alguma relação com a experiência de vida do autor, embora essa relação possa ter maiores ou menores graus de aproximação à realidade. No limite, quando se fala em auto-biografia, essa relação será a maior possível, em outras abordagens já não será tão directa ou não será tão directa em todos os momentos ou de maneira tão flagrante. Pessoalmente, não gosto de ler romances directamente auto-biográficos e de escrever histórias auto-biográficas, porque a minha voz autoral, o meu universo autoral, preocupa-se com temas, imagens e ideias que vão totalmente ao encontro daquilo que é exterior à dita realidade, daquilo que é exterior ao convencional. Logo, a minha obra pouco ou nada tem de auto-biográfico, daí achar difícil que se analise nela algo assemelhado a uma confissão. Há algo de confessional, claro, chamemos-lhe isso, mas na composição do meu próprio universo autoral, ao qual a minha obra se dirige. Com efeito, seria muito estranho se o meu universo autoral não tivesse nada a ver comigo, não é? Mas a minha obra, em regra, não se dirige ao auto-biográfico, não se dirige directamente à minha experiência de vida de todos os dias. Dirige-se, sim, à minha vida imaginal, à minha sombra. A obra que escrevi que, até agora, contém maior profusão de elementos auto-biográficos ainda nem sequer está pronta: é a banda desenhada «Palmas Para o Esquilo», que está a ser desenhada pelo Pedro Serpa, o desenhador de «O Pequeno Deus Cego», e que será editada para o ano. Mas mesmo essa história, na qual existem muitíssimos episódios e elementos auto-biográficos, retirados directamente e sem pudor algum da minha infância, não é de modo nenhum uma história auto-biográfica. Todavia, concordo em absoluto que é preciso coragem para escrever, assim como é preciso coragem para desenhar, para compor, para filmar. Ser artista é muito trabalhoso, muito exigente. Cada vez é mais difícil.
2. Quando vejo um David Soares a dominar com mestria o romance fantástico, em que edita de rajada 4 romances em 5 anos, penso naturalmente que estará, certamente, a preparar outro romance. A verdade é que tal não acontece e deparo com trabalhos em banda desenhada, um ensaio e o teu último em spoken word. São experiências autorais que precisas explorar? São temas que foram imaginados especificamente para cada suporte? Ou servem para descansar, no sentido de não serem, em princípio tão exigentes como um romance?
o evangelho do enforcado
Tens razão, não estou a preparar outro romance: estou a preparar dois romances.
Um encontra-se todo estruturado e até iniciado, mas tive de interrompê-lo, porque o seu tom – o tom da obra – não estava a ir ao encontro do novo ciclo autoral que inaugurei com «Batalha». O que é que isto significa? Significa que, a partir de «Batalha», encontro-me num novo ponto de observação sobre o meu universo autoral: ou seja, sou um autor, tenho um universo autoral próprio, que é composto por determinadas imagens, ideias e referências, e, cingindo-me aos romances, com «A Conspiração dos Antepassados», «Lisboa Triunfante» e «O Evangelho do Enforcado» observei esse mundo autoral, interroguei esse mundo, sob um ponto de vista em particular, mas ao escrever «Batalha» mudei de ponto de observação, embora as imagens, as ideias, os temas e as referências que compõem o meu mundo autoral se mantenham as mesmas.
Sempre criei em ciclos, sempre alterei as minhas coordenadas de observação a partir de uma determinada obra e mantenho o novo ponto de observação até sentir a necessidade de encontrar outro. Nos romances isso aconteceu com «Batalha». Penso que «A Conspiração dos Antepassados», «Lisboa Triunfante» e «O Evangelho do Enforcado», embora sejam romances com intenções diferentes, com personalidades muito distintas, partilham o mesmo ponto de observação sobre o meu mundo, que é um ponto de observação diferente do de «Batalha»; mesmo sabendo que o mundo autoral de «Batalha» continue a ser o mesmo: até consiste no mesmo mundo ficcional – o mundo de «Batalha» é o mundo de «Lisboa Triunfante» e de «O Evangelho do Enforcado». As minhas bandas desenhadas mais recentes também têm um ponto de observação completamente diferente das mais antigas, embora o meu universo autoral continue a ser o mesmo. De maneira que tive de interromper o trabalho no romance todo estruturado e iniciado de que falei no início desta resposta, porque o tom da narração dele estava muito relacionado com o ponto de observação que abandonei com a escrita de «Batalha», logo tenho de encontrar um modo de integrar esse romance interrompido no tom que me interessa explorar neste preciso momento. No tom que, evidentemente, estou a explorar com um novo romance – diferente – que estou a estruturar e a corporizar. Já tenho escritos vários blocos de texto e muitas ideias apontadas e estou, pois, a construir uma estrutura e uma linha narrativa que me estão a dar um prazer enorme. É um romance que conto publicar no próximo ano.
os anormais: necropsia de um cosmos olisiponense
No que diz respeito à banda desenhada, à não-ficção e ao ‘spoken word’, são linguagens diferentes da do romance, mas não consistem em linguagens de repouso ou de experimentação. Quando concebo uma ideia para uma nova obra ela já vem com um carácter único que pede uma linguagem específica: ou pede para ser um romance, uma banda desenhada ou um ‘spoken word’. Não forço as ideias a serem obras que elas não querem ser e não as programo no sentido de fazer uma bd a seguir a um romance ou um romance a seguir a uma bd. Se tiver apenas ideias para bd durante um certo período, então só escrevo bd. Se tiver apenas ideias para romances durante um certo período, então só escrevo romances. Não programo estas coisas, as ideias é que surgem e pedem para ser o que são: elas já nascem bandas desenhadas, romances ou ‘spoken word’. É como ser-se menino ou menina. E a banda desenhada é uma linguagem muito exigente, porque escrevo as minhas bandas desenhadas prancha por prancha, vinheta por vinheta, descrevendo todos os planos e sequências, mais os textos: tenho de descrever por palavras, num argumento o mais completo e rigoroso possível, tudo aquilo que imaginei na minha cabeça de modo a ser compreensível para o desenhador. É por isso que também desenho ‘layouts’ dos meus argumentos para os desenhadores compreenderem com mais facilidade o universo autoral que imaginei. Quanto ao ‘spoken word’, o meu novo disco «Os Anormais: Necropsia De Um Cosmos Olisiponense» é dos textos mais complexos e desafiantes que já escrevi nos últimos tempos: e não possui nenhum apoio em papel, foi feito para ser ouvido. É tão exigente quanto um romance – talvez mais, porque não tem a familiaridade do papel, é um trabalho que aborda sem tréguas o ouvinte com um texto multi-referencial e ultra-polissemântico.
3. Tens consciência que a tua escrita não é certamente muito acessível para um mercado de leitores mais habituado a, digamos, livros mais fáceis de digerir? Não te assusta saber que o mais certo é existir cada vez menos leitores capazes de te querer ler porque estamos numa época que tolera e recompensa o que é mau? Ou é isto uma falsa questão? Ou a ser um problema não te assusta porque sentes que o que importa afinal são as palavras por mais excêntricas que possam ser e que a exigência e a inteligência acabarão por vencer?
o pequeno deus cego
Olha, acho que nem sempre a exigência e a inteligência acabam por vencer, para ser sincero. Muitas vezes, se calhar a maioria das vezes, ocorre até o oposto. De facto, a minha abordagem ao ofício da escrita faz-se pela porta grande da polissemântica, da polissemia, da polinização total entre palavras, entre neologismos e arcaísmos. Ao fim e ao cabo, o que é um arcaísmo? Para mim não existem palavras mortas, porque sou um escritor: eu amo as palavras, verdadeiramente. Não quero que elas morram, não sou nenhum coveiro das palavras. Se se é escritor para se ser coveiro, então não vale a pena.
Quando escrevo no Twitter estou a comunicar, por exemplo, mas será que se pode escrever um romance do mesmo modo que se escreve no Twitter? Quer dizer, pode-se e até acho que isso já foi feito, infelizmente, mas será literatura? Claro que não, mas, independentemente disso, anda por aí uma moda muito estúpida relacionada com micro-ficções e com micro-micro-ficções. Isso para mim é a antítese total do que a literatura deve ser. O Alexander Theroux diz que se formos a casa de alguém e virmos que não existe um exemplar do «Dom Quixote» estamos em maus-lençóis e devemos fugir o mais depressa possível e, embora ele esteja a ironizar, tem toda a razão, porque onde não um «Dom Quixote» há certamente um livro escrito por uma celebridade ou por um tarefeiro dos géneros que estejam na moda na altura ou uma micro-ficção ou, pior, poderá nem sequer haver livros.
Quem é que hoje em dia lê o «Dom Quixote»? Ou o «Gargantua» do Rabelais? O «Ada» do Nabokov? Ou o Laurence Sterne, o Dante, o Joyce, o Barão Corvo? O que mata a arte é achar-se que ela tem de ser um mimetismo do real – e o que mata a literatura é achar que um livro tem de ser uma coisa muito perceptível, muito escorreita, muito entretível. “Lê-se como um romance”, diz-se quando se quer sublinhar a faculdade que uma obra tem de ser de dócil assimilação, como se o romance fosse o epítome da docilidade, da mansidão. Até já vi à venda um livro que tinha uma cinta promocional com a frase «um livro muito fácil de ler» – isto é rigorosamente verdadeiro, o que é espantoso. Enfim, como é que se luta contra isto?
É claro que nem toda a gente tem capacidade para ler títulos como «Don Renato: An Ideal Content», escrito pelo Barão Corvo em 1909, que mistura inglês, italiano, latim e grego na mesma frase – às vezes na mesma palavra! – e apresenta um dos vocabulários mais intrincados e luxuriantes que tive oportunidade de encontrar num livro. Nem toda a gente tem capacidade para ler o «Ulysses», quanto mais o «Finnegans Wake», muito menos o ultra-erudito «Darconville’s Cat», mas isso, ao fim e ao cabo, é um problema dos leitores, não é um problema dos escritores. Eu escrevo aquilo que tenho vontade e necessidade de escrever: se me percebem, óptimo. Se não percebem… Que posso eu fazer? Não se pode ser compreendido por toda a gente ao mesmo tempo, não é verdade? Não posso é, entre aspas, descer a minha fasquia para ir ao encontro da média, digamos assim. Isso é impossível. Nesse sentido, fico feliz por saber que também tenho cada vez mais leitores, mesmo com toda a excentricidade e erudição do meu vocabulário e da multiplicidade de camadas dos meus livros. É sinal que ainda há muita gente que sabe ler e que procura livros que lhes estimulem o intelecto, livros que lhes venham a pertencer. Isto é muito importante, a pertença. A construção da biblioteca interior.
batalha
No século XVIII e ainda no século XIX os leitores andavam com um livro em branco no qual copiavam trechos mais significativos das leituras que iam fazendo e quem não tinha um caderno desses era considerado um bárbaro. Era uma espécie de construção do homem através do livro, da leitura. O homem era o somatório do que lia. Hoje ninguém se constrói a partir dos livros: constroem-se a partir dos maus filmes de entretenimento, dos jogos de vídeo, da má música popular, dos desportos de massas. Cultiva-se a aparência, mais do que o corpo saudável: o que interessa é parecer bem, não é estar bem, e, nessa óptica, devota-se mais tempo ao ginásio do que à biblioteca. Vivemos numa espécie de período neo-romano, em que o que interessa é o carácter utilitário e prático das coisas. Se algo não tem um propósito prático, imediato, então não serve, não presta. E sob essa égide rasura-se o ensino da filosofia dos currículos escolares, por exemplo. Falta compreender aquilo que os gregos sabiam e que os romanos desaprenderam: que até as coisas práticas têm de ser belas, têm de ter poesia. Se assim não for, é um vazio muito grande. É, de facto, a era do vazio, mas não do vazio construtivo, aquele vazio ocioso que nos permite ouvir, ver e ler com atenção e com propriedade memorativa. É, antes, o triunfo do vazio sorvedouro, do vazio aniquilador ao toque.
4. Concluo, pelo que vou lendo, que é muito importante para ti uma apurada investigação sobre o que te propões narrar. Não te aborrece saber que isso te impede de escreveres mais livros?
A investigação não me impede de escrever, de forma alguma. Pelo contrário, o ofício da escrita faz-se escrevendo e lendo. Quem não lê, não poderá escrever, mas é ler a sério, ler muitíssimo. Ler e pensar sobre o que se leu. Memorizar, reflectir. Isto é importantíssimo, andar a pé com a cabeça cheia de livros. Ao fim e ao cabo é a construção da biblioteca interior, como disse na resposta anterior. A coisa mais triste do mundo é um escritor inculto. O James Joyce dizia que tinha a mente de um ajudante de merceeiro. Deve ter sido numa altura em que os ajudantes de merceeiro seriam os fulanos mais geniais do mundo, de certeza. Estas falsas modéstias, enfim, fazem mais mal que bem, sinceramente, mas é imperdoável que o ajudante de merceeiro não saiba pesar os artigos e fazer contas (de merceeiro), não é? Porque é o trabalho dele, evidentemente. Se não sabe fazer contas e pesar os artigos está a ser um mau ajudante de merceeiro. Ora, o ofício do escritor é lidar com as palavras, com o conhecimento. Se não se domina estas áreas, se não se é bom com palavras e com o conhecimento, então também se está a ser um mau escritor. E quando é assim, não vale a pena insistir. Não vale a pena insistir, porque a arte sai de dentro para fora, logo não pode ser forçada. E não vale a pena insistir, também, porque a concorrência é numerosa e ferocíssima. A arte não se compadece com indivíduos de fraca vontade: ou se é artista ou não se é – e quando se é, é-se em todos os momentos, todos os dias, por mais difícil e angustiante que isso possa ser. O artista não é um indivíduo normal. Eu não sou um indivíduo normal. A normalidade usa fatos de treino para ir às compras ao supermercado, lê jornais desportivos e vê “reality shows”. A normalidade não me interessa.
lisboa triunfante
5. Sentes que a tua literatura não é descartável e que envelhece bem?
Claro. Tenho o cuidado e o engenho de escrever livros que dificilmente se deixarão datar.
6. Não te assusta o rótulo de seres considerado o melhor autor português de literatura fantástica? E achas que o és não apenas por que escreves livros inteligentes, mas, acima de tudo, por que não tratas o leitor como um imbecil?
A minha obra insere-se no género fantástico, porque o meu universo autoral, próprio, distinto, pessoal, se preocupa com ideias, temas e imagens que vão ao encontro do inrotineiro, do sobrenatural, do esotérico, mas a minha obra não assenta e nunca assentou em lugares-comuns ou referências associadas a este ou àquele género literário, por isso, sim, pode considerar-se literatura fantástica, se se quiser, e com muito gosto da minha parte, mas por via do meu universo pessoal, não por via do mimetismo referencial – chavânico – que está na base do preconceito crítico contra a literatura de género.
De facto, a maioria desses livros é péssima e tem como único objectivo vender-se, não tem como objectivo ser literatura. Mas o mesmo pode dizer-se da maioria da literatura contemporânea, que também é uma maioria má que se farta, daí que a pertinência e qualidade de um livro não se relacionam com a sua taxonomia num ou em outro género. No que diz respeito à literatura dita fantástica, às vezes encontro mais imaginação e arrojo em livros que parecem estar fora dela, pois possuem uma imaginação mais desafogada, livre das tais cavilhações de género que só servem finalidades comerciais, porque o cliché, enquanto unidade constitutiva, por força da familiaridade, tem sempre mais aceitação imediata que algo exótico. Quantos fãs de literatura fantástica já terão lido obras verdadeiramente originais, como o maravilhoso «The Chess Garden» de Brooks Hansen, em vez das inanidades pseudo-medievaleróticas e quejandos que passam por fantásticas hoje em dia? De fantástico terão pouco, de facto, e de literatura, então, nada têm. Pode ser ingenuidade minha, mas fico muitas vezes surpreendido com a impunidade com que se publica o lixo que ocupa espaço nas livrarias.
Mas, na verdade, se acham a minha obra fantástica ou não, no fundo, não me interessa nada. É fantástica, é desfantástica? É o que quiserem que seja, porque a interpretação é exterior à obra, não a contamina. Os livros estão escritos, são lidos, apreciados, criticados, fica aquilo que quem os ler for capaz de entender e retirar. Se forem leitores cultos, inteligentes, que gostem de ler, que não se sintam diminuídos por aprenderem coisas e palavras novas, vão retirar bastante, ao contrário daqueles que apenas querem encontrar coisas e palavras que não os desafiem, aqueles que querem apenas entreter-se na acepção mais elementar.
No fundo, comunicar não me interessa. Nenhum artista autêntico está interessado em comunicar, nem poderá esperar que isso aconteça, a não ser que esteja disposto a ir bater à porta de todo o seu público a perguntar a cada indivíduo o que achou da obra, porque isso é que é comunicar. Ora, eu estou interessado em transmitir, que é diferente. É por ser artista, por ser escritor, que tenho ideias para transmitir, ideias que eu considero importantes para o público. Acho que a diluição da fronteira entre artistas e público está a matar a arte. Bem sei que estamos na era do Facebook, do Twitter e afins, que são mais ou menos úteis em divulgar aquilo que se faz, mas acho que faria bem a todos se se reforçasse essa fronteira.
7. O que podemos esperar para breve de David Soares no futuro próximo?
Consideremos o próximo ano como esse futuro próximo: um novo romance e um novo livro de banda desenhada.
Hoje realizo a Ana Vidazinha uma necrópsia ao melhor estilo sofista. Para quem não sabe Ana Vidazinha escreveu em perfeita simbiose com Hugo Teixeira o álbum de banda desenhada “Mahou Na Origem da Magia” e tem no forno em modo grill simples o segundo volume – não tenham medo o forno tem um bloqueio de segurança. Sei de fonte segura que teremos um segundo álbum com “uma bela mistura de amoras, framboesas, morangos e cerejas.” A originalidade foi combinar isto tudo com “uma bola de gelado stracciatella estrategicamente colocada no topo de tudo” – simples? sem dúvida, mas quem se iria lembrar disto? quem?? pois… Ana Vidazinha.
E ao contrário de Hugo Teixeira que gosta de cenas ela gosta de coisas. Tem uma queda para a tortura médica, considerada in por quem visita dólmenes; é bafejada por um palato fora do comum.
mahou, na origem da magia
Foi a entrevista possível tendo em conta que o microondas tinha acabado de fazer beep – altura para levar o caldo de legumes ao bichano da casa.
1. acreditas que atrás de um homem está sempre uma mulher pronta a lhe fustigar com o rolo da massa ou é mais um mito urbano? já que qualquer homem come com prazer as vossas experiências culinárias?
– Não sei, eu não sou mulher para fustigar com rolos da massa. Em caso de necessidade de armamento prefiro o bisturi, a serra oscilante e o berbequim ortopédico. E uma seringa de quetamina.
2. sabendo que tu és uma grande mulher achas que por essa ordem de raciocínio Hugo Teixeira é um grande homem? ou só de perfil é que engana?
– Não, não, cá em casa sou só eu que sou gorda. Bem, eu e o gato.
3. na altura de dar mimos ficas durante quanto tempo indecisa entre os dois bichanos da casa? e sempre que escolhes o mais fofo é por causa dos bigodes?
– Enquanto decido o gato não espera e instala-se logo no meu colo. Não são os bigodes, é o ronron que me vence.
4. não achas que se Hugo Teixeira tivesse uma dieta à base de brócolos pintalgados com bacon estaria menos virado para certas cenas e inclinado para as cenas que realmente interessam?
– Não resulta, tenho experimentado. Melhores resultados têm as pataniscas de bacalhau. Acabam é depressa.
ana vidazinha
5. sei que escreves mais rápido do que o Hugo Teixeira tenta desenhar. Já pensaste em lhe colocar um ultimato tipo “ou avanças com essa prancha ou passo eu a desenhar as tuas cenas?” ou achas que com isso ele regressava à infância que realmente nunca deixou e passaria todo o tempo a brincar com legos?
– Uia, isso era uma ameaça mais para mim que para ele. Não, cada página que escrevo é uma estratégia de fuga. Faço-a, entrego-lha, ele atira-se a ela e enquanto está ocupado, eu posso esquecer que tenho mais pra escrever e dedicar-me a outras coisas.
6. quanto à banda desenhada achas que vais à frente do Hugo Teixeira ou atrás dele? ou tudo depende de quem leva a chave do carro?
– Os nossos carros só têm dois lugares: não dá para ir ninguém atrás. Ainda assim, se um dia tivermos um carrinho de mão prefiro que ele vá atrás a conduzi-lo enquanto eu vou refastelada à frente, no veículo, a ler um livro de BD.
[1] a imagem de Crumble de Frutos Vermelhos foi rapinada do blog A Casa da Vidazinha
[2] a imagem do dólmen rapinada do perfil da Ana Vidazinha no Facebook
Bom apetite!
Maria Mariquitas teve a coragem, diga-se de louvar, de responder a algumas questões que me iam na alma, alma em sentido literário, já que sou ateu, o que só demonstra que é uma grande mulher medida em termos cúbicos – serei magnânimo e acrescento ao melhor estilo Dupond et Dupont que é uma grande mulher que leva à letra “Liebe Ist Für Alle Da“.
Aqui temos a entrevista possível tendo em conta que esta semana encontramos Sol em Escorpião com Ascendente em Leão.
1. Mariquitas é um nome com algum sentido escondido ou é apenas um nome pensado para se ficar com a ideia de coisa “fofa“?
Mariquitas significa Joaninha em espanhol, que em certos países da américa latina, é mais sinónimo de praga do que de coisa fofa, por isso se à primeira vista tem um ar fofo, pode mais aprofundadamente ser verdadeiramente assustador…
2. E voltando ao nome não o achas pernicioso tendo em conta que pode evocar mariquices?
É certo que me chamam muitas vezes de Mariquinhas, mas nunca me ofendeu…
3. Amor ao quadrado 25cmx25cm. Não achas que com essas medidas estás a colocar o amor numa moldura de vidro. Amor que deve ser livre e sem medidas?
Nunca tinha visto as coisas sobre esse prisma, mas vou lançar uma colecção xxl de tamanho 50×50 para “dar mais espaço” ao Amor.. a outra hipótese é retirar o vidro e deixar o amor livre e desimpedido.
4. Se eu te encomendasse um amor ao quadrado no qual quisesse ver exibido o amor que tenho à minha virilidade eras artista para encarar o projecto com seriedade? Ou ficarias constrangida ao descobrires que ainda existem coisas tão pujantes que iriam certamente castrar a tua musa?
Como artista tenho de estar aberta a novos desafios, mesmo que me deixem de tal forma assustada que não consiga responder ao resto das perguntas.
5. O teu mercado é totalmente feminino ou tens algum macho que ainda não assumiu a sua feminilidade?
O meu mercado, é quase exclusivamente feminino, mas tenho muitos fãs homens na comunidade o que revela certamente uma sensibilidade grande da parte deles.
6. Estás satisfeita ao cubo com as tuas realizações artísticas?
Completamente, mas estou sempre a pensar que não consigo fazer melhor o que me angustia profundamente.
7. Já pensaste em alargar os quadrados a um mercado mais gótico? Ou vais permanecer nesta cena de que o amor é que está a dar?
Acho o amor estará sempre presente naquilo que faço, mesmo que um dia troque o cor de rosa pelo preto.
Paulo, foi a entrevista mais maluca que já dei na minha vida!!!!
Obrigada!
são regularmente gastos na produção e manutenção deste blog uns bons pedaços de caldo, suaves e frutadas cervejas.
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