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uma oferta para o palato

Ontem foi-me oferecido duas saquetas de um chá que ainda não tinha provado.

Chegado a casa, pimba; primeira experiência na minha caneca de chá habitual. Fica no palato o sabor a canela e a gengibre, mas o picante da pimenta preta apenas se sente suavemente. Conclusão: água em demasia.

Hoje experimentei no local de trabalho num copo mais pequeno e agora sim o picante da pimenta preta, combinado com a canela e o gengibre é sentido na perfeição.

Às vezes sou uma pessoa de experiências.

são cheiros

Desde que se recorda o cheiro das fezes incomoda-o. Foi tentando reduzir os odores nauseabundos experimentando mudanças alimentares. Apenas frutas, aqui apenas laranjas, maças, bananas, etc… e depois combinações de várias frutas; apenas insectos, combinações de insectos, insectos com frutas, com carne, com peixe, marisco, vegetais; apenas lacticínios, águas, vinhos, licores. Imaginem todas as variantes possíveis e imaginárias de comida e de qualquer coisa remotamente comestível. Nada resultou, os dejectos mudavam a consistência, mas o odor continuava a ser asqueroso.

Até que a solução lhe surgiu tão cristalina como o gelo. Desde que eliminou os receptores no nariz responsáveis pelo olfacto nunca mais teve problemas. Agora o mundo tem o cheiro ideal.

tem o gelo tendências suicidas?

Uma equipa de cientistas da Universidade de Oxford demonstrou que existem afinidades moleculares que vão muito para além da fórmula H2O no gelo existente nos Pólos Sul e Norte. As suas conclusões explicam, não apenas que o degelo actual é um mito e que este não tem nada a ver com a teoria do “Aquecimento Global”.

A equipa cortou ao meio um pedaço de gelo extraído de um glaciar no Polo Sul e fez o mesmo com um pedaço de gelo extraído de um glaciar do Polo Norte. Colocaram cada pedaço num copo de água gelado. Os quatros copos de gelo com os quatro pedaços estavam separados entre si por um espaço de 30cm. Por muito que os pedaços se mexessem nunca conseguiam juntar-se aos outros. Os cientistas diminuíram a distância para 15cm, para 5cm e para 0cm; o resultado era sempre o mesmo. Os pedaços de gelo batiam como moscas contra o vidro dos copos, mas não se associavam. Porquê? A equipa concluiu facilmente que desunido o gelo perde força.

Na fase seguinte posicionaram num recipiente um pedaço de gelo do Sul e outro do Norte e agora, sim, estes terminaram por se encontrar e nunca mais se separaram. Repetiram a experiência com os dois pedaços de gelo remanescente e o resultado obtido foi o mesmo. O gelo tem regras de atracção muito próprias.

Na última experiência dispuseram num recipiente ainda maior os quatro pedaços de gelo e eles acabaram por se unir sem nunca mais se distanciarem. O gelo tem tendências gregárias, concluiu a equipa.

Ficaram sempre colados até que derreteram. No recipiente já não existia gelo, mas apenas água. O gelo tem tendências suicidas, foi a segunda conclusão.

Com estas experiências a equipa concluiu que o gelo das calotas polares tem imbuído a nível molecular o desejo de migrar, de se encontrar com o seu distante outro, de se unir ao outro, e faz-lo de forma intencional e com carácter periódico. O fenómeno “degelo” não é pois mais do que um mito e nada tem a ver com a teoria do “Aquecimento Global”.

Não ocorrem “degelos“, mas migrações de gelo. Nestas migrações algum gelo acaba por se perder e em última instância faz-se uno com o seu EU mais íntimo: H2O (a comunhão perfeita!)


Como combater as migrações de gelo será agora a luta desta fantástica equipa de cientistas.

o caos

A chuva desliza tão lânguida do céu que as gotículas não conseguem perturbar a placidez das poças de água. Estas permanecem impávidas, sem ondulações; alheias ao toque sedutor da chuva. Uma imagem de harmonia que convida à meditação. Como detesto essas tretas salto para uma das poças de água ao melhor estilo Godzilla e é o caos à solta – água por todo o lado. Um sorriso rasga-me o rosto. O caos também é zen.

welwitschia

@ muriel gottrop (wikipédia)

Apesar do clima em que vive, a Welwitschia consegue absorver a água do orvalho através das folhas. Esta espécie tem ainda uma característica fisiológica em comum com as crassuláceas (as plantas com folhas carnudas ou suculentas, como os cactos): o metabolismo ácido – durante o dia, as folhas mantêm os estomas fechados, para impedir a transpiração, mas à noite eles abrem-se, deixam entrar o dióxido de carbono necessário à fotossíntese e armazenam-no, na forma dos ácidos málico e isocítrico nos vacúolos das suas células; durante o dia, estes ácidos libertam o CO2 e convertem-no em glicose através das reações conhecidas como ciclo de Calvin.
Devido às suas características únicas, incluindo o seu lento crescimento, a Welwitschia é considerada uma espécie ameaçada, pois já existe desde o tempo dos dinossauros. 

Certas sementes do deserto permanecem em repouso durante décadas. Alguns roedores do deserto só saem dos refúgios à noite. A welwitschia, planta espetacular do deserto da Namíbia, de folhas em forma de correias, vive milhares de anos alimentando-se exclusivamente de orvalho matinal.

Canto Nómada de Bruce Chatwin, pág. 295

nilómetro

imagem @ szabolcs gebauer

O nilómetro na ilha Elefantina. Os degraus levam ao Nilo, enquanto as marcas de corte horizontais nas paredes (à esquerda dos degraus) registam as alturas das inundações anteriores.

No Antigo Egito, um nilómetro era um poço de grande largura, provido de uma escada que descia até ao nível do lençol freático para permitir a medição das flutuações do nível da água do rio Nilo. Cada templo tinha um destes instrumentos, destinado a determinar a intensidade da inundação anual e, em consequência, o valor dos impostos devidos neste ano. Os nilómetros podem ser vistos ainda hoje ao longo do Nilo. Os mais famosos encontram-se em Com Ombo, Assuã, na ilha Elefantina e no Cairo.

Wikipédia

seca de neal shusterman e jarrod shusterman

A seca já dura há muito tempo na Califórnia. E a vida da população tornou-se uma interminável lista de proibições: proibido regar a relva, proibido encher a piscina, proibido lavar o carro ou tomar duches longos. Até que as torneiras secam de vez. E é assim que, de repente, o tranquilo bairro onde Alyssa Morrow vive se transforma numa zona de guerra, onde vizinhos e famílias, outrora solidários, se digladiam em busca de água.

Saída de Emergência

Comprei este livro menos pela actualidade do tema e mais para saber como os autores iam tratar a adorada dualidade homo homini lupus (o homem é o lobo do homem de Hobbes) vs bom selvagem.
Neste caso concreto a “psicologia de escassez e pensamento de privação”. [1]

De um lado o pessimismo de Hobbes, do outro lado o optimismo
Jean-Jacques Rousseau. Na história as personagens, jovens adultos, não chegam a balancear-se entre os dois pólos – agem sempre pela bitola da sobrevivência e do bem comum. Nunca são verdadeiramente maus.

Ocorrem casos do homem ser lobo do homem, mas são tão isolados que comprovam o optimismo dos autores. O homem é bom por natureza, agindo contra as normais sociais apenas para sobreviver.

Mesmo sendo um livro, digamos que optimista, os autores exploram bem a natureza humana e a sobrevivência. Mas gostava de ter sido fornecido mais factos sobre a falta de água, o que estava a ocorrer, por exemplo, em outras zonas do país.

Gostei da forma como a história é contada pelas perspectivas das personagens principais: Alyssa, Kelton, Garrett e Jacqui. E o mecanismo funcionou bem. Criou sempre uma sensação de desespero e paranóia.

O final da história não é forçado. É um livro que nos faz acima de tudo reflectir sobre a precariedade da nossa sobrevivência como raça.


[1] página 138

terra incógnita

Terra Incognita é o nome da nova coleção de literatura da Quetzal. Mais do que livros de viagens, com um formato especial, a Terra Incognita reúne títulos e autores que desprezam a ideia de turismo e fazem da viagem um modo de conhecimento. O relato de viagens é, provavelmente, o género literário mais comum desde o princípio dos tempos. Hoje, quando o mundo é um gigantesco ecrã onde tudo está já conhecido, a única coisa que nos resta é o espírito da viagem. Se já não vamos à procura do exótico e do belo, nem do irrepetível, esses livros transmitem uma sabedoria que nos devolve a ilusão e a alegria da viagem. Nada mais natural, portanto, do que uma coleção inteira e propositadamente dedicada ao tema – com estes livros, nenhum mapa vai ficar fora da nossa imaginação.

Quetzal Editores

Para quem, como eu, adora literatura de viagens e muito mais, esta será uma colecção imprescindível.

Já tenho na minha lista de compras os livros:

A LISTA DO QUE JÁ FOI EDITADO [1]

  1. O Grande Bazar Ferroviário de Paul Theroux
  2. Breviário Mediterrânico de Predrag Matvejevitch
  3. Banhos de Caldas e Águas Minerais de Ramalho Ortigão
  4. Yoga para Pessoas que não Estão para Fazer Yoga de Geoff Dyer
  5. Canto Nómada de Bruce Chatwin
  6. Viagem por África de Paul Theroux
  7. Teoria da Viagem de Michel Onfray
  8. Danúbio de Claudio Magris
  9. O Velho Expresso da Patagónia de Paul Theroux (já lido noutra colecção da Quetzal)
  10. Viagens Sem Bola de Rui Miguel Tovar
  11. Na Patagónia de Bruce Chatwin
  12. Pela Terra Alheia. Notas de Viagem de Ramalho Ortigão

[1] a actualizar conforme os meus desejos

sal-gema

O que tive fazer para ajudar…

Fui à praia para encontrar
uma rocha especial,
com sabor a sal.

Descobri muitas rochas.
Umas em forma de ovelhas,
outras em forma de borrachas.
Umas eram velhas.
Outras pareciam novas:
polidas e brilhantes,
muito elegantes.

Fiquei com pena
por não encontrar
uma rocha sal-gema.


mas não era isto que se desejava… nova tentativa:

O sal-gema é uma rocha
especial
com sabor a sal.


Forma-se pela evaporação
das águas marinhas.
E a isto chama-se precipitação.


É uma rocha sedimentar
com aplicação alimentar
que fui encontrar na cozinha
a temperar a sardinha!

em teste

Para evitar percalços no inverno o meu pai gosta de testar o telhado para verificar se alguma telha está partida ou deslocada. Por isso um jacto de água enviado pela mangueira cai sobre o telhado. O caleiro começa a transbordar e é ver a água a escorrer pela parede.

Estranho?! Complicado?

Utilizando uma escada subiu-se ao telhado e o grito dado pelo meu pai ficará para os anais da história: ‘as cuecas da vizinha entupiram o caleiro.”

Mais simples impossível.